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Quando embarcar para a Cúpula do G7, no Japão, nesta quarta-feira (16), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva estará fazendo sua sexta viagem ao exterior em pouco mais de quatro meses, em uma ênfase na política externa que tem criado desagrado em setores do governo, disseram à Reuters duas fontes que acompanham as decisões do primeiro escalão.
Se há um reconhecimento de que é preciso reparar o estrago que o governo de Jair Bolsonaro fez nas relações internacionais do Brasil, integrantes da administração reclamam que as constantes viagens prejudicam o andamento do governo e atrasam decisões, em um mandato em que há muito para fazer e pouco tempo disponível, com uma economia andando a passos lentos e pouca margem de manobra com a opinião pública.
“Esse acento na agenda externa está errado. Essa ênfase não é o que vai alavancar o governo nesse momento. É importante, mas não é decisivo. Tem que focar no decisivo”, disse à Reuters um auxiliar presidencial sênior, mencionando que só um crescimento econômico sólido vai dar estabilidade ao governo.
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A crítica nos bastidores acontece num momento em que o governo tenta ajustar sua relação com o Congresso em meio a uma onda de reclamações sobre o andamento de projetos e liberação de verba sob o comando da Casa Civil, sem falar de casos de intrigas entre integrantes do gabinete. Nos dois casos, Lula é chamado a arbitrar os problemas de maior monta.
“O que o ambiente vai mostrando na América do sul é que o tempo político é muito curto para a esquerda”, disse o auxiliar. “Não se tem muito tempo para não entregar resultado”, pondera a fonte, afirmando uma eventual crise de popularidade é difícil de reverter e pode abrir caminho para os adversários.
Lula, que deixou o Planalto em 2010 com um índice recorde de aprovação de 87%, voltou ao poder com uma vitória apertada contra Jair Bolsonaro, com diferença de apenas 1,8% dos votos.
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Nas pesquisas, uma clara linha de polarização política segue evidente. A avaliação positiva de Lula caiu para 36% em abril em uma pesquisa feita Genial/Quaest ante 40% no mês anterior, incluindo uma queda de 9 pontos no pobre Nordeste, bastião de apoio tradicional do presidente.
Perguntados sobre os esforços do Brasil para mediar o fim o conflito na Ucrânia, 59% dos entrevistados querem que o mandatário se concentre em questões nacionais, e não no fim da guerra, contra 35% que apoiam o plano. A questão divide meio a meio até mesmo os entrevistados que aprovam o governo.
“Talvez o ritmo (das viagens) não precisasse ser tão intenso”, disse uma das fontes, que falou sob anonimato e defendeu que só o fato de Lula ter sido eleito já trouxe o país para os fóruns mundiais.
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Outra fonte explica que os comentários a respeito da extensa agenda externa se repetem, mas dificilmente chegam ao presidente, que vê no esforço de política exterior uma das partes centrais de seu terceiro mandato.
Conquistas e próximas paradas
A Secretaria de Comunicação do governo (SECOM) defende o desempenho da gestão, citando que foi tomado “um conjunto de ações, internas e externas, para reconstruir o país dos danos do governo anterior”, que incluíram, além das viagens, a recomposição do Bolsa Família e o retorno de vários programas sociais.
“Quando se trabalha o tempo rende”, diz a nota enviada à Reuters, mencionando reuniões do presidente com governadores e prefeito, além de outras iniciativas.
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Em seus dois primeiros mandatos, o presidente ampliou o espaço externo do Brasil, focando na chamada “diplomacia presidencial” — em que o presidente é o foco das relações exteriores. Iniciada pelo seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso, a conduta foi reduzida com Dilma Rousseff e quase desapareceu sob Michel Temer.
Nos quatro de Bolsonaro, foi uma inversão. O próprio ex-presidente protagonizou atritos com países europeus, China e até com os EUA depois da eleição de Joe Biden.
Um dos principais focos de Lula era recuperar esse espaço perdido e atrair negócios de volta para o Brasil. De fato, a simples eleição já aumentou o interesse do mundo no país, especialmente na área ambiental.
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Ainda antes da posse, Alemanha e Noruega anunciaram a retomada do Fundo Amazônia. Nas últimas semanas, EUA e Reino Unido anunciaram doações significativas para o fundo.
Desde que está de volta ao Planalto, Lula foi à Argentina, no final de janeiro, e em seguida ao Uruguai. Depois aos Estados Unidos, China – com uma parada nos Emirados Árabes Unidos -, Portugal e Espanha, Reino Unido na semana passada e nesta semana, o G7.
Estão no radar até o final do ano ainda a Cúpula do G20, em Nova Déli, a dos BRICS, na África do Sul, a abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova York, uma visita a países africanos, possivelmente Angola e Moçambique, talvez a participação em uma cúpula sobre florestas no Congo Brazzaville.
A agenda internacional ainda inclui encontros locais: uma cúpula de países da América do Sul em Brasília, no final do mês, para amarrar a volta da União das Nações Sul-americanas (Unasul), e um encontro em Belém, no início de agosto, dos países da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA).