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O líder do governo no Congresso Nacional, senador Randolfe Rodrigues (sem partido-AP), protocolou, nesta sexta-feira (23), um requerimento junto à Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado Federal para convidar o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, a prestar esclarecimentos sobre as recentes decisões de política monetária adotadas pela autarquia.
O movimento ocorre após o Comitê de Política Monetária (Copom) decidir manter, pela sétima vez consecutiva, a taxa básica de juros (Selic) a 13,75% ao ano ‒ reacendendo críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e de outros integrantes do governo.
Em viagem à Europa, Lula afirmou que é “irracional” manter a Selic no atual patamar com uma inflação a 5%. O mandatário também disse que Campos Neto (a quem se referiu mais uma vez como “esse cidadão”) “joga contra a economia brasileira”.
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Tom crítico também foi adotado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), que acompanha Lula na agenda oficial no exterior. Na avaliação do chefe da equipe econômica, há um “descompasso” entre a a visão da autoridade monetária sobre a economia brasileira e o que de fato está acontecendo no país. Ele disse, ainda, que, com a decisão desta semana, o BC “está contratando um problema futuro”, com mais inflação e possivelmente aumento de carga tributária.
Desde o início do terceiro mandato de Lula, integrantes do governo veem com desconfiança a postura adotada por Roberto Campos Neto ‒ indicado para o comando do Banco Central ainda durante o governo Bolsonaro. Alguns operadores do Palácio do Planalto chamam atenção para o risco que uma política monetária pode representar para uma retomada mais vigorosa da economia pretendida por Lula.
Já o BC alega que é preciso mais tempo para avaliar o comportamento da inflação e que as decisões de política são tomadas com base em critérios técnicos, seguindo a observância da necessidade de ancoragem de expectativas de agentes econômicos.
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No comunicado sobre a última reunião, o comitê pontuou que a conjuntura atual demanda “cautela e parcimônia” na condução da política monetária, a despeito de sinais de desinflação no horizonte. E não deu indicações claras de que os juros poderão começar a cair no próximo encontro, marcado para agosto ‒ momento em que o consenso do mercado espera o início do afrouxamento.
A possibilidade de convocação de Roberto Campos Neto a prestar esclarecimentos junto a CAE do Senado é mais um instrumento de pressão política do governo sobre a atual gestão do Banco Central, que também tem sofrido críticas no setor produtivo e até entre alguns agentes do mercado financeiro.
Em entrevista concedida ao canal GloboNews nesta sexta-feira (23), Randolfe Rodrigues disse que Campos Neto está “sabotando” o país e “atrasando” a economia no que considera o “melhor momento” da atividade dos últimos anos.
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“O presidente do Banco Central tem que prestar explicações sobre por que está atuando contra o Brasil e contra a realidade”, afirmou.
“Talvez eu nem entrasse no mérito da manutenção da taxa. Agora, todo o mercado estava esperando uma projeção de redução [da taxa] a partir de agosto. O que o senhor do Banco Central está dizendo para nós é que talvez a projeção de redução é para 2024. Está ficando doido? Tá ficando maluco?”, prosseguiu.
Integrantes do governo têm chamado a atenção para o fato de a manutenção da Selic em patamares elevados prejudica não apenas a atividade econômica como a arrecadação da União e dos entes subnacionais, podendo comprometer o próprio equilíbrio fiscal.
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Na próxima semana, as atenções do mercado deverão se dirigir à reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN), que colocará Campos Neto frente a frente com Haddad e a ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet (MDB), depois da nova decisão do Copom.
“Não é aceitável a economia e os dados caminharem em uma direção e ter um freio a que o Brasil decole. A ação da parte do presidente do Banco Central não é só de sabotagem, mas está freando que o Brasil decole”, disse Randolfe na entrevista.
Na justificação que acompanha o requerimento protocolado junto à comissão, o parlamentar diz que “o Brasil está estupefato” com a decisão de manter, pela sétima vez consecutiva, a Selic a 13,75%. No texto, ele alega que a instituição assumiu atitude “francamente negacionista”, atuando como “um verdadeiro agente desestabilizador da nossa economia”.
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“O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, conseguiu um raro feito: uniu o país contra si. Empresários, trabalhadores, todo o setor produtivo, têm plena consciência do dano à economia gerado pela manutenção da mais alta taxa real de juros do mundo. Mesmo setores que usualmente assentem com uma política monetária mais conservadora hoje concordam que esta decisão do Banco Central está desprovida de lastro na realidade e levantam suas vozes clamando por uma mudança”, escreveu.