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SÃO PAULO – Após a derrota homérica do Brasil por 7 a 1 para a Alemanha, muito vem se questionando se realmente haverá um efeito sobre a candidatura da presidente Dilma Rousseff. Até então, a Copa do Mundo estava sendo um evento bastante positivo para a presidente: a organização ficou acima da expectativa – que era baixa -, e a seleção, mesmo sem uma atuação brilhante, conseguiu chegar à semifinal, o que não acontecia desde o pentacampeonato de 2002.
Porém, as duas derrotas que se seguiram, para a Alemanha e para a Holanda, sendo a primeira a mais “traumatizante” está sendo vista pelo mercado como um grande revés para a atual presidente. Desde o pregão anterior ao pontapé inicial da Copa do Mundo, de 11 de junho (a Copa teve início no dia 12, com o jogo Brasil e Croácia) até o dia da derrota do Brasil para a Alemanha (8 de julho), o Ibovespa havia caído 2,66%, em meio à percepção de que a Copa tinha sido boa para Dilma. O mercado reage com queda à alta de Dilma, uma vez que ela tem um viés mais intervencionista, principalmente para as estatais, o que não agrada os investidores. Porém, desde a goleada sofrida, o índice já subiu quase 4%, revertendo o efeito Copa.
O que muito se questiona é se o efeito realmente irá ocorrer e, se sim, se ele será duradouro. A próxima pesquisa Datafolha, que deve ser divulgada a partir de amanhã, mostrará como anda a popularidade de Dilma e, por isso, é tão amplamente aguardada pelo mercado. Por enquanto, o que se apontou são rumores de que a presidente irá cair nas pesquisas, mas não há nenhum número confirmado.
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Conforme ressalta em artigo a economista-chefe da XP Investimentos, Zeina Latif, o tema tem muitas nuances. “Ainda assim, à luz do quadro econômico atual e seu impacto sobre a aprovação da presidente, é pouco provável que este evento em si cause um realinhamento mais sensível de expectativas. Diferente dos protestos de junho do ano passado, que foram o gatilho para corrigir o alto índice de aprovação do governo vis-à-vis o baixo desempenho da economia, agora os índices de aprovação já são mais compatíveis com a decepcionante realidade”, ressalta.
Já para o economista da Austin Ratings, Alex Agostini, “ninguém faz uma relação direta entre a derrota do Brasil na Copa e a presidente e, por isso, não há nenhuma comprovação empírica sobre se haverá realmente um efeito. Porém, os brasileiros devem voltar a recuperar o mau humor que havia no cenário antes da Copa, o que pode resgatar as reclamações sobre os altos gastos do evento em detrimento a investimentos em saúde e educação. “O mercado, obviamente, aproveita a oportunidade para relacionar os fatos”, avalia o economista, o que levou à alta forte nas últimas sessões.
Cenário já precificado
A economista da XP Investimentos ressalta a elaboração de um modelo para estimar a aprovação do presidente levando em consideração o mercado de trabalho, o rendimento real dos indivíduos e também a mudança na confiança dos consumidores.
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“Pelo modelo, o índice de aprovação do governo Dilma antes dos protestos era exagerado. Mesmo posteriormente, passado o susto, os 40% de avaliação positiva do governo no final de 2013 e início deste ano não se sustentariam por conta da piora do quadro econômico. O índice de aprovação acabou convergindo para o patamar sugerido pelo modelo”, aponta Zeina, de 33%. Assim, o quadro de aprovação de Dilma estaria compatível com o atual quadro da economia, não havendo razão para maiores ajustes no curto prazo.
Se houver, destaca a economista, tende a ser passageiro, conjuntural, assim como foi a leve melhora da confiança do consumidor e da aprovação do governo com o início da Copa. E, como faltam mais de dois meses e meio para o primeiro turno da eleição, pode-se diluir ou superar uma eventual contaminação na aprovação da presidente.
É a economia!
Uma das questões que é colocada pelos economistas e analistas políticos é de que, caso o cenário econômico estivesse bom, a confiança na economia seria maior. Porém, conforme aponta Agostini, no cenário atual, os fatores “extracampo”, como a derrota histórica do Brasil, façam com que a relação entre a queda da seleção e uma queda de Dilma seja mais fácil de ser relacionada.
Por outro lado, o grande determinante, aponta Agostini, ainda será a economia. Enquanto a produção industrial derrapa e o PIB (Produto Interno Bruto) aponta para desaceleração, os brasileiros estão entre um cenário econômico bastante deteriorado, mas que ainda não afetaram diretamente as suas vidas – ou de uma maioria da população. O emprego e o aumento de renda continuam se sustentando, mesmo com uma tendência de deterioração, e será esse o grande determinante para a eleição ou não de Dilma Rousseff.
Zeina reforça o coro e ressalta que os sinais de baixa atividade econômica durante os jogos, ainda a serem comprovados pelos indicadores econômicos, abalam uma já economia frágil, podendo agravar o quadro da já reduzida sensação térmica da economia e de falta de perspectiva de reversão ou de quando será possível afirmar que o pior já passou.
“O momento do evento esportivo não foi bom para a economia. Não se trata apenas de adiamento de decisões de consumo e produção nas últimas semanas, tal que seja possível uma relevante reativação da economia daqui para frente. Empresas e famílias começaram a enfrentar condições financeiras mais difíceis ao longo do primeiro trimestre, e a baixa atividade econômica na Copa agravou o quadro. Parte do consumo e produção não realizados pode não ter volta”, aponta a economista, que ressalta: o risco econômico não dará trégua. A Copa “cobrará a sua fatura”.
Sinal amarelo será ligado?
Mas será que a baixa atividade e a menor confiança pode atingir o Brasil e levar a um maior pessimismo nacional? Conforme aponta Agostini, “a maior parte dos brasileiros pode até sentir que o risco está aumentando em meio ao noticiário negativo nos jornais sobre o aumento da dívida pública, os maus gastos e a atividade econômica em desaceleração mas, se não ‘pesar’ no bolso dos brasileiros, o sinal amarelo não será ligado”, aponta. Porém, caso o desemprego comece a aumentar e a renda seja corroída pela inflação, o cenário para Dilma pode se inverter.
Zeina ressalta que há uma queda em curso da taxa de ocupação que pode se ampliar com a deterioração da situação financeira das empresas, esta medida pela piora dos indicadores de inadimplência do Banco Central e Serasa. E a piora é calcada nas dificuldades concretas enfrentadas pelos empresários e pela população no cotidiano. Para ela, contudo, não é necessário que haja um aumento da taxa de desemprego para que o quadro eleitoral seja afetado, bastando apenas uma redução da capacidade do consumo das famílias para tanto.
Apesar da queda da aprovação da presidente reduzir a sua competitividade nas eleições, não necessariamente isso implica num aumento da competitividade da oposição. Os próximos desafios dos candidatos da oposição vão além de se tornarem conhecidos pelos eleitores. É necessário conquistar os eleitores no desalento e descrentes das instituições políticas, que inflam as estatísticas de brancos e nulos.
E os eleitores “desalentados” estão mais concentrados nos grandes centros, sendo mais sensíveis ao debate econômico. Assim, dependendo do grau de enfraquecimento da economia, será inevitável discutir o assunto em plena campanha. E, ressalta Zeina, para fazer os necessários ajustes é recomendável discutir com a sociedade antes das eleições, sob pena de falta de legitimidade para implantar a futura agenda.