“Não é de se admirar que Moro parecesse deprimido em entrevista à Globo”, diz Financial Times

Ao falar sobre os eventos políticos desta semana, com destaque para o episódio Aécio Neves, Financial Times ressalta que velhos hábitos dos políticos dificilmente morrem e lembra entrevista do juiz da Lava Jato

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Em texto em que fala a América Latina, o correspondente do Financial Times Joe Leahy destacou o descolamento da crise política e econômica do Brasil, mas traçando um paralelo entre os dois temas. 

De acordo com Leahy, enquanto a economia brasileira parece estar voltando ao normal após sua longa recessão, os políticos brasileiros também estão tentando retornar aos dias passados, ao ressaltar que os últimos eventos do STF (Supremo Tribunal Federal) sugerem que os velhos hábitos dificilmente morrem para a classe política do país. 

Isso porque, após mais de três anos de investigações sobre a corrupção na política tendo como principal bandeira a Operação Lava Jato, agora há vários movimentos para tentar arrefecer o combate aos ilícitos. 

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Com a Lava Jato, lembra o FT, políticos poderosos foram pela primeira vez afastados do cargo, condenados e presos, caso do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que tinha grande influência sobre o baixo clero da Casa.

“Contudo, nesta semana, um dos outros grandes operadores do Congresso, o senador Aécio Neves, ajudado por uma solidária Suprema Corte agora empilhada com nomeados do governo do presidente Michel Temer [apesar de só Alexandre de Moraes ter sido indicado pelo peemedebista], mostrou que as coisas podem não ter mudado tanto quanto as pessoas esperavam”, avalia o FT. 

A publicação lembra que Aécio quase conquistou a presidência em 2014, sendo derrotado por Dilma Rousseff em 2014 por uma margem bastante estreita – e agora enfrenta uma situação bem diferente. Em meio às gravações do tucano com Joesley Batista, em que solicitava R$ 2 milhões (ele afirma que o dinheiro era um empréstimo para pagar advogados), a primeira turma do STF decidiu afastá-lo do cargo, como já tinha feito com Cunha.

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“Mas, inexplicavelmente, decidiu dar a última palavra ao senado para decidir se ele deveria ser suspenso. Sem surpresa, o Senado, que está cheio de colegas sob investigação, decidiu manter Aécio no cargo”, aponta. A publicação lembra ainda que até mesmo o PT, de Dilma Rousseff, apoiou o senador durante uma parte do debate (quando condenou o afastamento de Aécio pelo Supremo; contudo, o partido votou pela manutenção do afastamento do senador nesta semana). 

Em meio a esses eventos, Leahy afirma que “não é de admirar que Sérgio Moro, o juiz responsável pela Operação Lava Jato na primeira instância, parecesse um pouco deprimido quando apareceu na TV Globo esta semana para discutir a Operação”. O correspondente se refere à entrevista que Moro concedeu ao jornalista da GloboNews, Gerson Camarotti, nesta semana. Uma das falas do juiz destacadas pelo FT foi: “aqueles que adotam essa postura de tentar frear os processos contra a corrupção adotam uma postura vergonhosa. Não há nenhuma vergonha em combater a corrupção, mas há vergonha naqueles que tentam frear os trabalhos da Justiça no que se refere ao enfrentamento da corrupção”.

Leahy conclui fazendo uma referência à fala de Moro: “talvez seja vergonhoso [frear os trabalhos da Justiça], mas é extremamente típico das classes políticas do Brasil. Se a unidade anti-corrupção  sobreviver, a pressão pública será chave”. 

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.