Ninguém propôs acabar com o parcelado sem juros, diz Campos Neto

Em entrevista, presidente do BC diz que há várias soluções sendo discutidas e que problema provavelmente passará pelo crivo do CMN

Marcos Mortari

Presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, na CAE do Senado
Presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, na CAE do Senado

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O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou, nesta quinta-feira (17), que não está em discussão a ideia de encerrar a modalidade de compra com o parcelamento sem juros.

Em entrevista ao jornal digital Poder360, ele disse que há várias soluções sendo discutidas para o problema dos juros cobrados no rotativo do cartão de crédito e que provavelmente o assunto será avaliado pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) ‒ órgão também integrado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), e pela ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet (MDB).

“Há uma equação difícil de equilibrar. De um lado, entende-se que o parcelado sem juros é muito importante para o consumo. E ninguém propôs em nenhum momento acabar com o parcelado. A ideia que estava sendo discutida era como podemos fazer para que isso não continue crescendo de forma desenfreada”, disse.

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“Do outro lado, também há muita emissão de cartão. Então, existia uma ideia de que, se tabelar os juros, acabamos controlando a emissão de cartões, porque os bancos vão começar a entender que, com os juros tabelados, precisa emitir menos”, prosseguiu.

Sobre o diagnóstico do problema dos juros elevados cobrados no rotativo, Campos Neto destacou o contexto da migração do sistema baseado no cheque pré-datado, cujo risco era assumido pelo lojista, para o sistema parcelado no cartão de crédito, migrando o risco para o emissor.

Segundo ele, o mercado no Brasil cresceu a uma velocidade não vista em qualquer outro país do mundo, com um elevado número de cartões emitidos em condições de fazer pagamentos parcelados sem juros e uma taxa de inadimplência muito elevada.

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“Houve novos entrantes nesse mundo de cartões, principalmente ligados ao varejo, que emitiram muitos cartões. Entendiam que precisavam fidelizar o cliente. No final das contas, isso gerou também uma inadimplência grande”, disse.

Segundo o presidente do Banco Central, hoje 20% de todo o mercado de crédito está ligado aos cartões, sendo que 15% são com compras sem juros e 5% com juros.

Durante a entrevista, Campos Neto também disse que há entraves para a recuperação de crédito no Brasil ‒ o que influencia nas taxas de juros elevadas cobradas pelas instituições financeiras. “Mostro sempre nas apresentações que eu faço que o Brasil tem uma recuperação de crédito de 18%, que se não me engano é pior que Venezuela, Burundi, Zimbábue e Haiti”, disse.

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“Quando o crédito fica inadimplido, você quase não consegue recuperar. Parte da explicação é que no Brasil o processo de recuperação de crédito é judicial, e não extrajudicial. Então, ele é longo, demorado”, afirmou.

“Quando o valor é pequeno, às vezes o banco nem tenta recuperar. Porque o custo de recuperar o crédito é maior do que o que você pode recuperar”, completou.

Na última quinta-feira (10), Campos Neto indicou que o crédito rotativo deve acabar, com o tomador inadimplente vá direto para uma modalidade de parcelamento. Desta vez, no entanto, ele adotou tom mais cauteloso e disse que a solução para o problema ainda está em discussão.

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“Não tem uma solução tomada. Provavelmente vai passar pelo CMN. Eu sou um voto de 3”, afirmou. Segundo ele, “ninguém quer fazer nada que tenha um impacto abrupto”.

“Alguns setores expressam muita preocupação com o que aconteceria na vida das pessoas se não houvesse parcelado sem juros – e eu entendo isso. Agora, precisamos achar uma solução que equilibre, porque o grande medo é de não fazer nada e em algum momento começar a ter um problema maior de inadimplência que gere uma reversão da utilização desse produto. E aí poderia haver um impacto no consumo muito grande”, pontuou.

Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.