No G20, Haddad manifesta preocupação com dívida de países pobres e juros altos

Ministro também defende papel de bancos multilaterais de desenvolvimento na canalização de recursos para enfrentar a crise climática, a fome e a pobreza

Marcos Mortari

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT) (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil).
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT) (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil).

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O ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), expressou, nesta sexta-feira (24), preocupação do governo brasileiro com o nível de endividamento de países pobres, segundo ele agravado pelo aumento nas taxas de juros em diversas economias do mundo.

Em reunião com ministros das Finanças e presidentes de bancos centrais do G20, em Bengaluru, na Índia, Haddad defendeu o aprofundamento do debate sobre o papel de bancos multilaterais de desenvolvimento, que, na sua avaliação, devem canalizar recursos para enfrentar a crise climática, a fome e a pobreza.

“Estamos preocupados sobre os níveis da dívida, notadamente entre os países mais pobres. A elevação das taxas de juros em meio à fragilidade da economia global agrava este cenário”, disse Haddad no discurso feito em inglês e cuja íntegra foi distribuída pela assessoria de imprensa do ministério.

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As falas ocorrem em meio a ataques do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à política monetária do Banco Central e ao comandante da autarquia, Roberto Campos Neto, e em um contexto de especulações sobre possíveis mudanças na meta de inflação para pressionar uma queda antecipada da Selic, atualmente em 13,75% ao ano.

“Atualmente, enfrentamos desafios severos interconectados, uma crise multidimensional, as consequências da pandemia [de Covid-19], guerras, conflitos, o crescimento da pobreza, desigualdades e obstáculos no suprimento de comida e energia limpa a preços acessíveis. Nesse contexto, o aumento do diálogo entre as maiores economias é importante, mas não suficiente. Nós precisamos de ações com resultados concretos”, afirmou.

“Devemos aprofundar as discussões sobre as reformas dos bancos multilaterais de desenvolvimento que reforcem seu papel na formação de parcerias e canalizando recursos para lidar com o nexo do clima, alimentação e pobreza. Essas instituições precisam ser bem capitalizadas e flexíveis para apoiar países em desenvolvimento com financiamento de longo prazo, taxas de juros adequadas e estruturas inovadoras para reduzir riscos, estimular parcerias público-privadas e atrair investimentos privados”, prosseguiu.

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Em sua fala, Haddad também fez críticas ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e ao legado de seu governo para as relações do Brasil com o resto do mundo. “Herdamos um cenário diplomático problemático. O Brasil estava isolado, ausente e em desacordo com seus valores e tradições. Olhando para frente, nós vamos reconstruir nossa presença internacional”, disse.

O ministro da Fazenda reforçou que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) considera o G20 “central para o fortalecimento do multilateralismo”.

De acordo com a CNN Brasil, Haddad almoçou na Índia com o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, que também participa do encontro do G20 e tem sido alvo de críticas de Lula, do PT e de aliados de presidente devido ao atual patamar dos juros.

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Imagens feitas pela emissora em Bengaluru mostraram Haddad e Campos Neto em uma conversa descontraída com a presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, nos bastidores da reunião entre as autoridades econômicas do G20.

(com Reuters)

Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.