O “rebranding” da Lava Jato no governo Bolsonaro

Ruptura entre o bolsonarismo e Sérgio Moro catalisou disputas e processo de transformação da marca "Lava Jato"

Equipe InfoMoney

Publicidade

SÃO PAULO – A operação Lava Jato sofreu significativas transformações ao longo dos últimos anos. Seja pelos impactos de decisões tomadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF), vazamentos hackers, ações do Poder Executivo ou mesmo por uma nova conjuntura política e social, as investigações que pautaram boa parte das recentes movimentações de peças no mundo político estão passando por um novo momento.

Este foi um dos assuntos do podcast Frequência Política. programa é uma parceria entre o InfoMoney e a XP Investimentos. Ouça a íntegra pelo player acima.

Continua depois da publicidade

As mudanças da marca “Lava Jato” dialogam com um momento em que vozes dissonantes com a operação, nos meios político e jurídico, sentem-se mais à vontade ao falar em erros cometidos e correção de rumos. Na política, o processo pode ter sido catalisado pela ruptura com o bolsonarismo, evidenciado pelo desembarque de Sérgio Moro do governo.

Some-se a isso a ascensão de Augusto Aras, alçado para o comando da Procuradoria Geral da República (PGR) pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido), e que hoje trava uma guerra com as forças-tarefas da operação no Paraná, Rio de Janeiro e em São Paulo.

Durante o recesso do Poder Judiciário, o clima de “revanchismo” contra o lavajatismo cresceu, embalado pela decisão liminar do presidente do STF, ministro Dias Toffoli, que determinou o compartilhamento de dados das forças-tarefas com a PGR. O ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato na corte, revogou a decisão logo na volta aos trabalhos, em um movimento que marcou um contra-ataque, acompanhado por questionamentos à conduta de Aras junto ao Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP).

Continua depois da publicidade

“Talvez tenhamos visto a defesa da Lava Jato se mexendo um pouco mais do que nas semanas anteriores, quando havia a operação no córner e o restante dos revisores batendo”, observa Debora Santos, analista política da XP Investimentos.

Mas as ações não são suficientes para a Lava Jato recuperar o capital político que teve no passado. “Aquele apoio popular que eles tinham e a narrativa de se colocarem quase que como uma palmatória do mundo realmente foi perdida ao longo de todos esses eventos dos últimos dois anos”, complementa a especialista.

Apesar de algumas vitórias, a operação continuou sofrendo perdas no Poder Judiciário. Como em dois julgamentos em que a Segunda Turma do Supremo que excluíram a delação de Antonio Palocci na ação que envolve a utilização de imóvel como sede do Instituto Lula e outro que leva o mesmo processo à fase de alegações finais.

Continua depois da publicidade

“Lula está inelegível por conta dos dois primeiros processos (tríplex no Guarujá e sítio em Atibaia). Essas decisões não mudam imediatamente a situação dele, mas dão um norte de que estão se sentindo mais à vontade para falar desses temas, para tomar esse tipo de decisão do que antes. Ou seja, está havendo menos vigilância e está aparecendo menos esse tipo de decisão. Isso nos dá uma senha de que o momento está sendo avaliado por alguns ministros anti-Moro e que buscam esse revisionismo da Lava Jato”, pontua Debora.

Para a analista política, é possível que os casos sejam usados como termômetro por grupos que querem julgar o pedido de suspeição do ex-juiz Sérgio Moro, o que poderia ser uma derrota sem precedentes para a Lava Jato.

O ambiente de maior contestação nos meios político e jurídico, menor apoio popular à operação, além da própria ruptura com do bolsonarismo com o “lavajatismo raiz” e de movimentações de Augusto Aras colocam a marca “Lava Jato” em um momento de significativas mudanças. Novas operações são deflagradas, mas guardam poucas conexões com os fatos que motivaram as investigações iniciais.

Continua depois da publicidade

“Combate à corrupção, para o bem ou para o mal, acontece de acordo com o olhar de cada equipe de investigação, de cada Judiciário e com a influência política dos que estão no poder naquele momento. O combate à corrupção e as operações respondem ao ambiente em que estão inseridos. Então, vamos continuar tendo Lava Jato, mas não com o olhar que tínhamos antes”, avalia Debora Santos.

“Uma narrativa de combate à corrupção, de lavajatismo puro, de Odebrecht, delações, Petrobras, está caminhando para um ocaso, para um desuso”, diz. “Temos que pensar que agora temos a ascensão de um tipo de combate à corrupção e de um olhar para o que os governos estão fazendo, justamente para onde o dinheiro está indo”.

O assunto foi abordado na edição desta semana do podcast Frequência Política. Você pode ouvir a íntegra pelo SpotifySpreakeriTunesGoogle Podcasts e Castbox ou baixar o episódio clicando aqui.