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SÃO PAULO – Diante da pressão para que deixe o cargo, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, reforçou, nesta segunda-feira (15), que continuará no comando da pasta e que não pedirá para sair. Em coletiva de imprensa, o general disse que comandará o ministério enquanto o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) faz “tratativa de reorganizá-lo”.
“Eu não vou pedir para ir embora. Não é da minha característica, eu não vou pedir para ir embora. Nem eu nem o Élcio [Franco, secretário-executivo] nem nenhum de nós que está aqui. Isso não é um jogo, não é uma brincadeira: ‘Quero ir embora’. Isso é sério, é o país, é a pandemia, é o Ministério da Saúde”, afirmou ao ser questionado por jornalistas.
“Não pode ser levado da forma como está sendo colocado. Eu não pedi para ir embora nem vou pedir, estamos trabalhando e é um trabalho em conjunto com o governo. Se haverá uma substituição ou não, cabe ao presidente da República e não a mim”, disse.
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Discussões sobre a troca no Ministério da Saúde ocorriam há meses, mas ganharam força nos últimos dias com a pressão de governadores, diante do colapso do sistema de saúde em diversos estados e da lenta campanha de vacinação; de parlamentares, com a crescente ameaça de instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar a conduta de autoridades durante a crise; e de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), que já autorizaram abertura de inquérito contra o militar.
A situação também vem de um longo incômodo de membros das Forças Armadas com a presença de Pazuello (um militar ainda na ativa) na pasta e do próprio ingresso do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no tabuleiro eleitoral – o que aumenta a sombra sobre os planos de reeleição do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
Parlamentares do chamado “centrão” também ampliaram a pressão sobre Bolsonaro pela saída do general, em uma tentativa de recuperar o poder de influência sobre a pasta, em um momento de maior proximidade com o Palácio do Planalto. Na noite do último sábado (13), o Bolsonaro e ministros militares encontraram Pazuello para discutir a situação, já avaliada como cada vez mais insustentável.
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Entre os nomes no banco de apostas, estava a cardiologista Ludhmila Hajjar, que contou com o apoio do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), e de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). No último fim de semana, ela participou de reunião com Bolsonaro, Pazuello e um dos filhos do presidente, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP).
A possibilidade de a médica assumir a pasta não foi bem aceita pela base bolsonarista nas redes sociais e as próprias divergências com o presidente quanto a medidas restritivas de circulação de pessoas e o uso de medicamentos sem eficácia comprovada contra a Covid-19 inviabilizaram o movimento. Hoje, Ludhmila informou ter recusado o convite.
Ainda no campo técnico, foram especulados os nomes do cardiologista José Antonio Franchini Ramires e de Marcelo Queiroga, presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia. No meio político, o deputado Dr. Luizinho (PP-RJ), que preside a Comissão de Seguridade Social e Família e coordena a Comissão Externa da Câmara dos Deputados de Enfrentamento à Covid-19 ganhou espaço.
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Nos bastidores, há uma discussão sobre o perfil do futuro ministro. De um lado, há quem prefira um nome técnico que busque resgatar a credibilidade da atual gestão no enfrentamento à pandemia – seria o caso de Ludhmila Hajjar, mas a indisposição de Bolsonaro em abrir mão das críticas a medidas como o isolamento social e lockdowns regionais dificulta tal construção.
Do outro, discute-se a possibilidade de se nomear uma figura da política, que poderia trazer ganhos de interlocução com o parlamento, com governadores e prefeitos em um momento de agravamento da crise sanitária no país.
“Nós estamos num momento em que é preciso colocar também. ‘Ministro Pazuello vai ser substituído?’ Um dia sim. Pode ser curto, médio ou longo prazo. O presidente está nessa tratativa de reorganizar o ministério. Enquanto isso não for definido, a vida segue normal”, pontuou Pazuello durante a coletiva de imprensa.
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“Eu não estou doente. Eu não pedi para sair e nenhum de nós, no nosso Executivo, está com problema algum. Nós estamos trabalhando focados na missão. Quando o presidente tomar a sua decisão, faremos uma transição correta, como manda o figurino”, complementou.
Caso a troca seja efetuada, o país terá seu quarto ministro da Saúde desde o início da pandemia do novo coronavírus, em março de 2020. Antes de Pazuello, o ex-deputado Luiz Henrique Mandetta (DEM) e o oncologista Nelson Teich comandaram a pasta.