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As projeções de inflação para este ano e 2024 engataram uma sequência de piora nas últimas semanas, o que deve dificultar ainda mais a situação do Banco Central (BC) para reduzir a taxa básica de juros (Selic) – atualmente em 13,75%.
No cenário atual, os economistas já projetam que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deve encerrar 2023 no patamar de 6%, acima do teto da meta definida pelo governo, que é de 4,75%. A nova estimativa de inflação é quase 1 ponto porcentual a mais do que se previa na virada do ano. Para 2024, as projeções já estão em 4%.
A piora para o quadro da inflação ocorre por vários motivos. Ela tem a ver com as ações que o governo Jair Bolsonaro adotou no ano passado e os sinais confusos do início da administração Luiz Inácio Lula da Silva na área econômica, sobretudo, com relação ao rumo da política fiscal.
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“Basicamente, todas as revisões que temos feito este ano têm sido por conta de preços administrados (serviços e produtos com reajustes definidos por contratos ou regulados pelo setor público)”, afirma Júlia Passabom, economista do Itaú Unibanco. O banco aumentou de 5,8% para 6,3% a previsão para a inflação deste ano. Os administrados devem subir entre 10,5% e 11%.
A lista de medidas que vão influenciar os administrados inclui a volta da cobrança de PIS e Cofins sobre gasolina e etanol e a de ICMS (imposto estadual) sobre eletricidade.
Em 2022, de olho na sua campanha à reeleição, Bolsonaro colocou em marcha uma série de medidas tributárias para ajudar no controle da inflação. Ele zerou tributos sobre combustíveis e sancionou um projeto aprovado pelo Congresso que limitou a alíquota de ICMS sobre combustíveis, energia elétrica, telecomunicações e transporte coletivo. As medidas foram criticadas do ponto de vista fiscal por ocasionar perda de arrecadação sem uma contrapartida.
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“Isso foi decisivo para termos uma inflação de 5,8% em 2022, ou o resultado seria um IPCA entre 8,5% e 9%”, afirma André Braz, economista do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas.
Os preços administrados explicam apenas uma parte do resultado da inflação deste ano. O IPCA ainda vai ser influenciado pela dinâmica da inflação de serviços, que costuma ter um comportamento mais persistente.
“A situação piorou”, afirma o economista da LCA Consultores Fabio Romão. Ele revisou de 5,2% para 5,7% a previsão de inflação deste ano por conta da pressão dos serviços e, especialmente, da discussão sobre a questão fiscal, que tem impacto no câmbio e nas expectativas.
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Sem âncora
O que os economistas também têm apontado é que os primeiros movimentos do governo Lula na economia têm provocado uma desancoragem das expectativas inflacionárias. O presidente, por exemplo, criticou publicamente a condução da política monetária pelo BC, e o governo chegou a indicar que poderia rever metas de inflação.
A equipe econômica também tem sido cobrada para apresentar a nova âncora fiscal que vai substituir o teto de gastos. Sem uma sinalização do controle das contas públicas, há uma piora da percepção de risco dos investidores com a economia brasileira.
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“Poderíamos ter uma inflação mais baixa desde que houvesse uma sinalização do governo em relação ao novo arcabouço fiscal”, afirma o economista Heron do Carmo, professor sênior da FEA/USP. O economista, que chegou a projetar alta de 5,5% para o IPCA deste ano, agora espera uma taxa mais próxima de 6%. Apesar de ter aumentado a previsão, Heron diz acreditar que, se o governo introduzir uma nova âncora fiscal factível, será possível atenuar as expectativas e a economia como um todo ter uma evolução melhor do que se espera hoje.