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SÃO PAULO – Em matéria da edição desta semana, a The Economist questiona: afinal, por que a América Latina não tem a sua Catalunha? A região enfrenta um momento de turbulência após anunciar sua independência da Espanha e, dada a relação que a América Latina tem com o país, que colonizou boa parte do subcontinente, a atenção ao desenrolar dos acontecimentos do outro lado do Oceano Atlântico é bastante grande.
De acordo com a publicação, há uma surpresa de porque o separatismo não é familiar na América Latina. Contudo, essa afirmação precisaria de uma ligeira qualificação, aponta a revista, uma vez que a América de língua espanhola dividiu-se em 15 países após a independência e, para que pudesse construir um canal, Theodore Roosevelt conseguiu separar o Panamá da Colômbia em 1903. O Rio Grande do Sul lutou em uma guerra de dez anos para se separar do Brasil antes de chegar a um acordo em 1845 (paradoxalmente, Giuseppe Garibaldi, mais tarde o herói de unificação italiana, lutou pelo Rio Grande do Sul), entre outros exemplos.
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Contudo, os esforços separatistas mais recentes têm sido menos significativos, aponta a publicação. As regiões orientais da Bolívia, de mentalidade mais comercial, flertaram com secessão durante sua batalha política com Evo Morales, o presidente socialista. Há murmúrios ocasionais de separatismo no Zulia, estado da Venezuela, e na Patagônia argentina. Já no Brasil, a Economist também cita a campanha “o Sul é o meu país”, que organizou um referendo informal sobre a independência em três estados do sul do Brasil (incluindo o Rio Grande do Sul), em que votaram menos de 3% do eleitorado no ano passado. “Em um eco da Catalunha, seu organizador afirma que a região paga quatro vezes mais impostos do que recebe”, aponta a revista destacando, contudo, que a adesão do eleitorado foi ainda menor no plebiscito deste ano.
De acordo com a revista, as divisões linguísticas e étnicas da América Latina não se prestam ao separatismo. As populações indígenas, com suas próprias línguas, são muito dispersas e divididas para tentar, enquanto muitos povos indígenas não querem a separação: em vários países, eles querem autonomia para preservar sua cultura, mas também estão lutando para ser tratados como cidadãos “plenos”.
“Outra razão é que, como a França, países como o Brasil e o México transformaram a unidade nacional em um projeto político explícito. Em 1937, Getúlio Vargas, ‘o populista da construção nacional do Brasil’, ao implantar o Estado Novo, ordenou a queima das bandeiras dos estados – incluindo a bandeira de seu estado, o Rio Grande do Sul. Ele afirmou ter esmagado ‘a arrogante imposição de interesse regional’ que colocava em perigo a unidade nacional. Vargas ordenou ainda que o português fosse o único idioma do ensino escolar”, destaca a publicação sobre o caso doméstico, apontando que algo parecido aconteceu no México após a revolução de 1910-17.
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Em entrevista à publicação, Alberto Vergara, cientista político da Universidade do Pacífico, em Lima, avaliou que, para que as queixas regionais se tornem movimentos separatistas, são necessárias algumas condições específicas. Estes incluem uma poderosa elite política regional, acesso a recursos econômicos e comércio exterior, e uma cidade que rivaliza com a capital nacional. Estes se aplicaram ao movimento boliviano centrado em Santa Cruz. E se aplicam no caso da Catalunha.
“No entanto, se o movimento boliviano se esgotou, foi em parte porque a atração da unidade nacional na América Latina é forte. (…) Fora os grandes Brasil, México e Argentina, os latino-americanos sabem o que é para os países serem pequenos e fracos em termos globais. Romper tem pouco apelo”.