Quem ganha e quem perde com Joaquim Barbosa fora das eleições?

Visto como candidato com potencial eleitoral, Barbosa pode ter dado boa notícia para esquerda e direita

Marcos Mortari

Publicidade

SÃO PAULO – O anúncio do ex-presidente do STF (Supremo Tribunal Federal) Joaquim Barbosa de que não participará das eleições deste ano deve trazer desdobramentos significativos para a disputa pela presidência da República. Se sua presença era encarada como o grande “fato novo” da corrida, a decisão comunicada nesta terça-feira (8) também pode mexer com a disposição das peças no xadrez político e as estratégias dos principais candidatos. Para entender melhor os efeitos deste episódio, o InfoMoney ouviu três analistas políticos:

Carlos Eduardo Borenstein (Arko Advice)
Uma das consequências da saída de Joaquim Barbosa da disputa é a limitação aos candidatos outsiders, que agora ficam restritos às figuras de Marina Silva (apesar de sua experiência parlamenta e como ministra) e do próprio deputado federal Jair Bolsonaro. Embora esses candidatos não sejam exatamente nomes de fora da política, essa é a imagem que conseguem, de certo modo, atrair.

Do ponto de vista da centro-esquerda, a notícia tende a ajudar Marina e Ciro Gomes, principalmente caso se confirme o provável cenário de ausência do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na disputa. O PT também pode ser beneficiado pela saída do ex-magistrado, já que é possível que cresça o potencial de transferência de votos de Lula.

Continua depois da publicidade

No centro, a saída de Barbosa cria oportunidades ao ex-governador paulista Geraldo Alckmin, que perdia votos para o ex-presidente do STF, sobretudo entre o público de grandes cidades e maiores níveis de renda e escolaridade. Por outro lado, Alckmin continua com o desafio de unificar o centro, agora com notícias de movimentos no sentido de costurar aliança de centro forte dissociada de PSDB e MDB.

As declarações de Álvaro Dias ilustram as dificuldades do tucano para costurar uma aliança de centro. Por outro lado, não podem ser desconsiderados os instrumentos de que dispõe o PSDB para atrair legendas governistas menores. Há um incentivo considerável em esses partidos caminharem com Alckmin.

Juliano Griebeler (Barral M. Jorge)
Havia muitas incertezas a respeito da candidatura. Apesar do bom desempenho nas pesquisas de intenção de votos, Barbosa tinha algumas resistências a serem superadas, como dentro do próprio partido e a falta de traquejo político.

Continua depois da publicidade

Sem Barbosa não temos a figura forte de outsider e dificilmente surgirá outra até agosto. Entretanto, isso não muda o sentimento anti-establishment por parte do eleitorado, o que fará com que os candidatos alinhem seu discurso para atingir esses eleitores.

Num primeiro momento, a desistência parece favorecer Marina Silva, que tinha rumores de uma possível aliança com Barbosa no futuro. Marina, entretanto, também enfrenta problemas para conseguir se colocar como uma candidata viável, pois possui um bom recall por parte do eleitorado, mas não possui uma capilaridade grande no país e muito menos no Congresso, onde não conseguiu atrair deputados à sua causa e perdeu cadeiras.

A notícia também pode favorecer Alckmin, pois, diminuindo a fragmentação, ele tende a se consolidar como principal candidato da centro-direita. A demora em subir nas pesquisas de intenção de votos cria um sério problema para o PSDB e aumentam as chances de não termos um um candidato reformista no segundo turno.

Continua depois da publicidade

Rafael Cortez (Tendências Consultoria)
Os principais vencedores são Alckmin e Marina. A ex-senadora porque deixa de ter uma candidatura muito parecida com a sua, nomes que vão fazer certamente um discurso contra a política econômica do governo Dilma e a política de alianças desenhadas ao longo das administrações do PT. Ou seja, que correm para buscar um eleitor que é do PSDB, em um primeiro momento, e usariam da trajetória pessoal para gerar contatos com o eleitorado de centro. Daí, a perspectiva que Marina e Barbosa teriam estratégia muito parecida ao longo da campanha. Ambos têm fontes de legitimidade de não pertencer à política tradicional.

Outro vencedor é Alckmin, que deixa de ter um nome que tinha capacidade de recrutar um eleitorado que é tipicamente do PSDB: alta renda e alta escolaridade. De outra maneira, vai dificultar para o tucano a construção de alianças, porque, ao ter um adversário fora da disputa, é possível ainda que outros partidos no campo da centro-direita procurem fazer movimentações nessa direção. DEM, PRB e Podemos são um exemplo neste caminho, muito embora tenha diminuído a ideia de que Alckmin precisa do MDB. De alguma maneira, o xadrez eleitoral fica impactado negativamente, justamente por conta dessas possibilidades a outros partidos da centro-direita, agora que a percepção de um mercado eleitoral aberto se reforçou com a saída de um nome importante da disputa.

Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.