Rui Falcão promete diálogo com economistas do Real e diz que teto de gastos ‘já não existe na prática’

Deputado federal rechaça anúncio de eventual ministro da Economia e diz que o petista não pode assumir um programa que não o represente

Fábio Matos

Em meio às cobranças de aliados e setores do mercado para que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) anuncie o nome de quem seria o ministro da Economia em um eventual governo a partir de 2023, o deputado federal reeleito Rui Falcão (PT-SP) afirmou que o candidato ao Planalto não pode assumir um programa que não represente as propostas do partido e da coligação.

Ex-presidente nacional do PT, Rui Falcão disse que a campanha de Lula incorporou uma série de projetos apresentados até mesmo por adversários no primeiro turno, como Simone Tebet (MDB).

“Não é o caso da senadora, mas o que se cobra do presidente Lula e da nossa campanha é que a gente assuma um programa que não é o nosso”, criticou Falcão em entrevista ao jornal O Globo. “Da mesma maneira como se pede a indicação prévia de um ministro da Fazenda, algo que significaria soberba, porque é desprezar o voto do eleitor antecipando o resultado.”

Questionado sobre as reiteradas declarações de Lula de que acabará com o teto de gastos se eleito, o deputado afirmou que o instrumento já foi descumprido pelo governo do presidente Jair Bolsonaro (PL).

“O próprio ministro Paulo Guedes diz: ‘Violamos, sim, o teto de gastos, mas de forma responsável’. Então, quando o Lula fala que vai acabar com o teto de gastos é porque ele já não existe na prática, pela demagogia criada pelo Bolsonaro para tentar se reeleger”, disse Falcão.

“Os economistas de várias colorações têm discutido maneiras de inicialmente trabalhar com esse rombo. Há a proposta do que eles chamam de waiver (licença para não cumprimento de regras) de R$ 200 bilhões ou de 300 bilhões para o início do governo. Até que você encontre alternativas, como ter uma âncora fiscal responsável. E também esse tempo seria necessário para votar uma reforma tributária”, completou o ex-presidente do PT.

Em relação ao apoio dado a Lula por economistas ligados à formulação do Plano Real e aos governos de Fernando Henrique Cardoso (PSDB) – como Armínio Fraga, Pedro Malan, Persio Arida, Edmar Bacha, Elena Landau e José Roberto Mendonça de Barros –, Rui Falcão defendeu o diálogo com o grupo após as eleições.

“Acho que é prematuro detalhar um programa agora, mas nas reuniões das quais eu participei e assisti, a última delas foi com um grupo chamado Derrubando Muros, que tem economistas desse feitio, e disseram o seguinte: em nome da defesa da democracia e dos riscos implicados na eleição do Bolsonaro, nós apoiamos o Lula incondicionalmente, irrestritamente e de forma independente”, apontou.

“Então, ganhando a eleição é o momento de dialogar com essas pessoas e ver o que é possível acolher dentro das diretrizes que nós aprovamos e o que não é possível atender. Isso faz parte do sistema democrático”, concluiu Falcão.

Questionado sobre as dificuldades que Lula deve enfrentar para formar maioria no Congresso caso vença as eleições, o ex-presidente do PT citou a importância de uma reforma tributária no Brasil e afirmou que a relação do Executivo com os governadores, empresários e a sociedade civil será importante para dar força ao governo e facilitar a negociação política no Legislativo.

“O Lula tem dito o seguinte: em primeiro lugar, ele vai chamar todos os governadores, todos os prefeitos para ver quais são os problemas reais e traçar prioridades. Em seguida, haverá a negociação política com Parlamento, que todos os governos democráticos devem fazer. E o debate para mudar a política tributária. Isso requer também a participação da sociedade civil, dos empresários”, disse. “É um processo de construção no qual o presidente Lula, com oito anos de governo, já demonstrou que tem total capacidade para fazer.”