André Jakurski e a morte do capitalismo

A visão de André Jakurski sobre os juros negativos.

Renato Santiago

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Texto originalmente enviado aos assinantes da newsletter do Stock Pickers no sábado, 26 de setembro. Para assinar, clique aqui. 

“Recomendo muita cautela e muita sorte”
— André Jakurski

Para quem trabalha no nosso mercado, ter a oportunidade de ouvir o que tem a dizer André Jakurski é um momento de sorte. Ao mesmo tempo, não ouvir o que ele tem a dizer seria falta de cautela.

Portanto, seguimos o conselho do próprio Jakurski e assistimos a uma live que ele fez nesta semana com a Liga de Mercado Financeiro da PUC-Rio. E o que ele disse lá é sério: o capitalismo está morrendo, e pelas mãos dos Bancos Centrais.

Parece dramático? Talvez. Mas antes de entrar no mérito do que ele disse, precisamos esclarecer por que não dá para não prestar atenção no que ele fala.

Não temos conhecimento da existência de nenhum ranking de melhores traders do Brasil, mas muitos convidados do Stock Pickers dizem que esse título é de Jakurski.

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Formado em engenharia pela PUC-Rio (seis meses antes do previsto), trabalhou no Unibanco por dez anos antes de fundar, em 1983, a Pactual DTVM. A ideia, diz Jakurski, era ganhar dinheiro prestando serviços de bancos de investimentos para empresas, como montagem de operações estruturadas ou fusões e aquisições.

Aparentemente o mercado não estava pronto para isso, então alguém precisou ir para a mesa operar. Jakurski foi e nasceu assim o melhor trader do Brasil.

Para não ficar apenas rasgando seda aqui, vamos descrever dois dos principais trades sobre os quais a fama do gestor foi construída. O primeiro aconteceu nos anos 1980, quando o capital da Pactual foi multiplicado de US$ 600 mil para US$ 17 milhões após o Plano Cruzado, quando o governo permitiu a entrada de investidores estrangeiros no Brasil.

O segundo aconteceu na década seguinte. Em 1991 algumas debêntures da Telebras estavam vencendo e sendo convertidas automaticamente em ações. Muitos fundos de pensão não queriam manter os papéis e começaram a vendê-los, em um evento de liquidez até então inédito para a empresa. No fim da operação ele era dono de 10% da estatal.

Em 1998, Jakurski deixou o Pactual, na época já um banco de investimentos, e fundou a JGP, que hoje tem R$ 16 bilhões sob gestão.

*Neste episódio do podcast Outliers, do Samuel Ponsoni, ele conta esses trades com as próprias palavras. Clique aqui e ouça.

É por tudo isso, portanto, que sempre se escuta o que Jakurski tem a dizer. E o que ele disse desta vez é que o capitalismo está vivendo o prenúncio de seu fim.

A tese do gestor gira em torno da atuação dos bancos centrais, o crescimento de seus balanços e o que chama de “diarreias monetárias”:

“Nos últimos 20 anos os balanços dos bancos centrais cresceram de US$ 2 trilhões para US$ 23 trilhões. Isso fez os juros ficarem baixos, a economia flutuar graças a diarreias monetárias. Mas dinheiro do Banco Central não cria riqueza, cria uma anestesia temporária”, explica.

Ao mesmo tempo, Jakurski aponta um problema demográfico sério, principalmente no mundo ocidental, que é o envelhecimento médio da população (ele diz que muitos países, o Brasil inclusive, deve ter um crescimento próximo de 0% da população nos próximos 30 anos).

E o que acontece com um país cuja população não cresce, apenas fica mais velha? A produtividade cai. Ou seja: o PIB potencial do Ocidente tende a ser decrescente.

Então o cenário é esse: sem crescimento real, com os Bancos Centrais acumulando capital e “pagando” juros negativos ou nulos. E o diagnóstico de Jakurski é o seguinte:

“Sustentar as economias com transferência de capital para pessoas que não geram produto é transferência de riqueza entre gerações e entre classes de pessoas. Essas estratégias não vão gerar crescimento e são de certa forma o prenúncio da morte do capitalismo. O capitalismo vive de produtividade, que normalmente traz juros reais positivos. Estou cético de que algo interessante virá com essa atuação fiscal dos tesouros e monetárias dos Bancos Centrais”.

Antes que você venda tudo que tem e fuja para as montanhas, calma: essa não é uma tese de curto prazo. Na verdade, o próprio Jakurski já disse isso na Expert de 2019, em uma palestra feita com outro grande mestre do mercado: Rogerio Xavier, da SPX. O Salomão fez um registro dessa fala em um vídeo totalmente não oficial (#StockPickersWay) e postou no Instagram dele na época. São 7 minutos que farão toda a diferença no seu sábado.

Não sei se você concorda ou discorda do que ele diz, mas eu nunca havia enxergado essa questão dos juros negativos com o olhar do Jakurski. Já gastei 60 minutos desta sexta assistindo à live desta semana e o vídeo do Salomão e devo gastar mais o fim de semana refletindo sobre isso. Convido a fazer o mesmo, pois o que os bancos centrais fazem repercutem no bolso de todos, inclusive no seu.

Queime após as 10h

Quem já está no nosso canal do Telegram está recebendo, desde o início da semana, um morning call diferente. É o Queime Após as 10h, nosso boletim diário para você ler antes da abertura da Bolsa.

É rápido e objetivo, feito do nosso jeito: sem frescura e com bom humor. É até estranho chamar de morning call, mas não conhecemos outro termo.

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Um abraço,

Renato Santiago
Fundador e Apresentador do Stock Pickers

Renato Santiago

Renato Santiago é jornalista, coordenador de conteúdo e educação do InfoMoney