Se não podemos prever o futuro, devemos aprender com o passado. A lição da Trafalgar

Olhando para trás, Trafalgar foi uma das primeiras a acreditar na recuperação em V.

Matheus Soares

Economia brasileira moeda (Foto: Getty Images)
Economia brasileira moeda (Foto: Getty Images)

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Nenhuma crise global é inteiramente previsível e quase nenhuma delas é igual à anterior. Esse é um dos motivos que fazem os mercados despencarem: se todos soubessem quando as crises surgiriam, dificilmente teríamos correções tão fortes. Contudo, olhar o que aconteceu no passado pode te ajudar a entender ou mesmo prever o futuro. Como disse o escritor americano Mark Twain, “a história nunca se repete, mas rima”.

Em 14 de maio conversamos com o gestor Ettore Marchetti, da Trafalgar, que encontrou no passado evidências de uma pandemia semelhante à covid-19 entre 1957 e 1958, quando o H2N2 fez muitas vítimas. Ao estudá-la ele percebeu que seria possível acreditar em uma recuperação econômica em formato de um V – cai rápido e sobe tão rápido quanto caiu.

Diferentemente de pandemias como a gripe espanhola ou mesmo as epidemias mais recentes vindas da China – como a SARS e a MERS –, a H2N2 descrita por Ettore era até então pouco conhecida. Ela também começou na China, teria feito 1,1 milhão de vítimas e fez o PIB cair 12%. Passados dois trimestres, a economia se recuperou.

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Passados quase dois meses desde a conversa com Ettore, recebemos Aline Cardoso, gestora do fundo Long Biased da casa para explicar como a Trafalgar navegou pela crise e quais as principais posições do fundo hoje.

“Embora nós acreditássemos na possibilidade da recuperação em “V” da economia, também trabalhávamos com outros cenários possíveis. A probabilidade de uma recuperação em V era de 50%, em U [cai e demora para voltar] de 40% e em L [cai e não volta] de 10%.”  De 14 de maio para cá, o Ibovespa ganhou mais de 20% em valor e as bolsas globais não pararam de subir. Na Trafalgar, o fundo Multimercado acumulou alta de 5,6% em abril e maio, enquanto o Long Biased subiu mais de 20% no mesmo período.

O fundo chegou a ficar 92% net long (posições de compra já descontada as apostas de venda), mas após as altas de abril e maio, o fundo diminui suas posições em bolsa e migrou para algumas moedas de países emergentes.

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“No início de maio percebemos que as bolsas tinham andado muito só que as moedas de países emergentes tinham ficado para trás. Então migramos parte da posição comprada em bolsa para uma posição comprada em uma cesta de moedas de países emergentes, como o peso mexicano, peso colombiano, peso chileno e mesmo o real. No final de maio, com Ibovespa perto dos 100 mil pontos e com o real já perto dos R$ 5,00 diminuímos nossas posições nesses investimentos”.

Carteira do fundo

Hoje a carteira do fundo Long Biased é separada em duas estratégias: a estrutural, com teses de longo prazo, e a tática, com teses para se beneficiar de eventos de curto prazo.

“No Long Biased nós temos uma carteira estrutural de ações que independe se o PIB vai subir ou cair. São empresas com dinâmica própria que surfam tendências seculares. É o caso de Mercado Livre [principal posição], B2W, Vivara e Lojas Americanas, por exemplo. Embora a gente tenha diminuído nossas posições, essa carteira continua intacta. Dentro do portfólio também temos a carteira mais tática que é composta pela parte de moedas e ações mais cíclicas”.

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Enquanto a carteira estrutural corresponde a 70% do risco do fundo, a carteira tática corresponde a 30%.

Santos Brasil

Dentro da carteira tática, Aline chamou atenção para Santos Brasil, que para ela é uma ação cíclica mas com outras vantagens:

“Em termos de vantagem competitiva, a Santos Brasil é um dos melhores terminais com menor custo e maior produtividade em termos de movimentação por hora. É super cíclico ao desempenho do PIB e até por isso deve sofrer no segundo trimestre. Por outro lado, está faltando capacidade no Porto: os competidores não têm capacidade de expandir os terminais e muitos deles “quebraram” durante a última crise. Isso deve levar a um aumento do preço da movimentação de carga nos terminais e consequentemente aumentar as margens da companhia.”

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Os “shorts” da carteira

Por fim, ela destacou os dois shorts da carteira do fundo: um no QQQ, ETF do Nasdaq, e o outro no EWW, que é o ETF de bolsa mexicana:

“Estamos preocupados com o avanço do partido democrata nas pesquisas eleitorais americanas. Nos últimos dois meses, a probabilidade de uma Blue Wave [quando o partido democrata ganha Senado, Câmara e Presidência] saiu de zero para 30% de chance. Isso é ruim para a bolsa em geral, mas especialmente ruim para as ações de empresas de tecnologia dado que podemos ter mais regulação e aumento impostos no setor.”

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Uma publicação compartilhada por Stock Pickers (@stockpickers_) em 10 de Jun, 2020 às 3:49 PDT

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O Coffee & Stocks é um programa diário de entrevistados apresentado pelo criador do Stock Pickers, Thiago Salomão. Ele é transmitido ao vivo às 7h15 da manhã no Instagram do Stock Pickers.

Matheus Soares

Matheus Soares é analista da Rico Investimentos e um dos responsáveis pela Carteira Rico Dividendos 8+