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Ibovespa cai 1,29%, dólar sobe 0,79%: por que o shutdown “evitado” nos EUA não animou o mercado?

Analistas apontam que impasse deve continuar e que mercado segue de olho nos próximos passos de política monetária do Fed

Lara Rizério Vitor Azevedo

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O início do quarto trimestre de 2023 apontava, no início da manhã, para ser de alívio para os mercados. Os índices futuros das principais bolsas dos EUA amanheceram em alta, isso após um acordo contra todas as probabilidades para evitar um shutdown (paralisação) do governo da maior economia do mundo acalmar os ânimos em Wall Street após uma semana de perturbações nos mercados provocadas pelas taxas de juros.

Porém, após o alívio inicial, logo durante a manhã o mercado virou a chave. Já no início da tarde, o sinal da maioria dos índices tinha se invertido. Lá fora, o Dow Jones caiu 0,22%, o S&P500 fechou estável e o Nasdaq destoou a0 subir 0,67%. No Brasil, a queda foi ainda mais significativa, com o Ibovespa fechando em baixa de 1,29%, a 115.056 pontos. O dólar comercial subiu 0,79%, a R$ 5,066 na compra e a R$ 5,067 na venda.

O impasse com relação ao ano orçamentário de 2024 – que tem início na virada de setembro para outubro – se estendeu até as últimas horas e tudo indicava que não seria possível chegar a um acordo, destaca a Levante Corp. No entanto, após negociações intensas, os republicanos mais conservadores cederam e aprovaram legislação que manterá o governo americano em pleno funcionamento até 17 novembro.

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“Pesou, também, a memória negativa do último shutdown (2018-2019), ainda no governo Trump, que teve período recorde de 35 dias e teve impacto negativo generalizado para a economia dos EUA. Na história, já constam 21 interrupções no financiamento governamental desde 1976, sendo a primeira ocasião ainda no governo Carter. Até 1990, entretanto, os shutdowns duravam questão de horas até que Democratas e Republicanos chegassem a um acordo. A partir da década de 90, porém, as paralisações passaram a se estender por dias”, destacaram a equipe de analistas.

Com a sobrevida de 45 dias até o próximo shutdown, a Casa Branca e o Congresso esperam avançar no sentido de um acordo para o financiamento das atividades governamentais para o próximo exercício financeiro.

Mas por que os mercados não persistiram em alta com o adiamento do shutdown?

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Conforme destacou a Levante, para os mercados, o temor era de maiores estresses na curva de juros americana no caso de um shutdown prolongado, além da possível desaceleração mais acentuada da atividade econômica e impacto negativo em ações de companhias cuja operação passa pelos gastos governamentais – a exemplo de farmacêuticas e empreiteiras do setor de defesa.

No entanto, avaliam os analistas, a surpresa de um acordo também não representa grande alívio para os ativos financeiros, uma vez que: a) o impasse deve continuar, em meio a pressão de Republicanos por maiores cortes orçamentários; e b) a atenção dos investidores segue mais voltada à política monetária dos EUA e o elevado déficit fiscal.

“Portanto, a dor de cabeça política nos EUA não acabou, mas os políticos ganharam algumas semanas para tentar encontrar uma solução melhor”, observou o analista sênior do Swissquote Bank, Ipek Ozkardeskaya, em nota a clientes.

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Por outro lado, está garantida a divulgação de dados econômicos referentes a setembro, o que não ocorreria caso o governo americano permanecesse em um apagão, avalia a Levante.

Falando em indicadores, um índice de atividade industrial mostrando um desempenho mais forte do que inicialmente previsto e outro dado sobre a atividade do setor superando as expectativas corroboraram a visão de juros altos por mais tempo nos EUA.

O yield do Treasury de dez anos – referência global para decisões de investimento – subiu a 4,691%, ganhando 12 pontos-base.

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“Os yields dos treasuries tiveram forte avanço em meio às falas de membros do Fed e do PMI industrial dos EUA acima do esperado, o que aumentou as probabilidades de alta dos juros na reunião do Fomc em novembro, mesmo que ainda seja uma aposta minoritária”, fala Alexsandro Nishimura, economista e sócio da Nomos.  “O dólar e juros futuros avançaram, com a moeda americana acima dos R$ 5, refletindo o cenário de aversão ao risco do exterior. O Caged mostrou criação de vagas acima das expectativas em agosto, mas não exerceu pressão adicional sobre os juros”.

Assim, as taxas dos contratos de DI por aqui acompanharam o movimento dos rendimentos dos títulos do Tesouro dos Estados Unidos, conforme persistem as preocupações com um cenário de juros mais altos por mais tempo na maior economia do mundo.

“O Banco Central brasileiro não vai conseguir baixar os juros com força se a curva americana continuar avançando”, acrescenta João Piccioni, analista da Empiricus Research.

A curva de juros fechou em forte alta. Os DIs para 2024 ganharam 1,8 ponto-base, a 12,25%, e os para 2025, 18 pontos, a 11,02%. Os contratos para 2027 e 2029 foram a 11,03% e 11,50%, respectivamente, com mais 22 e 21 pontos. As taxas dos DIs para 2031 subiram 19 pontos, a 11,76%.

Entre as maiores quedas do Ibovespa ficaram companhias ligadas ao mercado interno. As ações ordinárias da MRV (MRVE3) caíram 6,56%, as preferenciais da Azul (AZUL4), 6,15%, e as ordinárias do Magazine Luiza (MGLU3), 5,19%.

(com Reuters)

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.