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Após chegar à sua mínima durante a manhã, quase perdendo os 112 mil pontos, o Ibovespa se recuperou ao longo do dia e encerrou a terça-feira (31) com alta de 0,54%, aos 113.143,67 pontos. Mesmo com a recuperação, o índice doméstico não conseguiu atingir, no mês, o patamar positivo, encerrando outubro com perda de 2,94%.
Hoje, os investidores ficaram atentos ao debate sobre a alteração ou não da meta de déficit fiscal zero para 2024. Após reuniões do governo com líderes partidários do Congresso, nada foi alterado. Segundo ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha (PT), a revisão não foi assunto, mas sim a busca de fontes de receitas.
Assim, se buscou “tentar” reduzir os ruídos, gerados na última sexta-feira pelo presidente Lula – e que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, buscou dissipar ontem – de que o governo busca responsabilidade fiscal. Entretanto, não abre mão de investimentos.
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Não bastasse o front local, outubro foi desafiador para ativos de riscos, no nível global, por conta dos desdobramentos do conflito no Oriente Médio (iniciado em 7 de outubro), bem como pelos avanços dos treasury yields.
Os rendimentos dos títulos do Tesouro dos EUA atingiram seus pontos máximos dos últimos 16 anos durante o mês, motivando analistas a refletir sobre a continuidade de ajustes na política monetária pelo Federal Reserve.
Além disso, o conflito entre Israel e o Hamas dominou o noticiário durante o mês de outubro, com a constante ameaça da escalada do conflito, diante da invasão por terra pelo exército de Israel ou o envolvimento de outros países da região.
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Enquanto a possibilidade de entrada de outros países na guerra se afasta, o combate por terra segue e não há previsão de um cessar fogo, mesmo com aprovação de pedido de trégua humanitária pela ONU.
“O que chamou a atenção é que nesse mês de outubro o T10 (Treasury yield de 10 anos) bateu 5%, que era um patamar que não se atingia desde a crise do subprime, em 2008, e os mercados estressaram muito em relação aos juros. Esse é um resumo que a gente pode trazer para o mês”, afirmou Rafael Schmidt, sócio da One Investimentos.
Ibovespa sofre com exterior
Por que isso impactou tanto para a Bolsa no Brasil? Segundo Schmidt, porque, à medida que se elevam as apostas de juros altos por mais tempo nos EUA, isso traz uma expectativa de manutenção de taxas em patamares relativamente restritivos por aqui também.
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Os treasury yields fecharam o mês com altas, com título de 2 anos com avanço no retorno de 3,4 pontos-base (bp), a 5,073%, e a rentabilidade do titulo de 5 anos subindo 3 bp, a 4,834%. O retorno do título de 10 anos cresceu 3,4 bp, a 4,911%.
A resiliência da economia americana também marcou o mês, com inúmeras divulgações de dados econômicos mais fortes do que as projeções e que trouxeram volatilidade para os índices lá fora e, por consequência, para o nosso doméstico.
Diante disso, as apresentações de números levavam a questionamentos sobre o futuro da política monetária dos EUA e a trajetória de inflação por lá. Essas preocupações dificilmente ficarão restritas a outubro e devem acompanhar investidores ao longo do resto do ano.
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“Os investidores seguem no aguardo do resultado da reunião do Banco Central americano, que será finalizada amanhã. O consenso do mercado é que o Fed opte por manter a taxa de juros no mesmo patamar, entre 5,25% e 5,5%. O dólar comercial, da mesma forma, se mantém misto”, explica Vanessa Naissinger, especialista de investimentos da Rico.
No encerramento do dia, os índices conseguiram passaram para o campo positivo, mas não o suficiente para salvar o mês. Assim, o Dow Jones fechou com alta de 0,38% no dia, mas desceu -1,54% no mês; S&P 500 subiu 0,65% no dia e recuou -2,17% em outubro. Por fim, o Nasdaq encerrou com alta de 0,48% no dia, mas teve ampla perda de 2,73% no mês.
Petróleo
O preço do petróleo oscilou ao longo do mês, acompanhando principalmente as movimentações do conflito. Por um breve momento, em 21 de outubro, a retirada de parte das sanções dos EUA no petróleo e gás da Venezuela trouxe queda nos preços e causou alívio. Mas o movimento rapidamente foi revertido por notícia do conflito entre Israel e o Hamas.
Nesta terça, o petróleo fechou em baixa, com as preocupações em relação à economia global assumindo o foco do mercado, em vez da guerra do Oriente Médio. A expectativa de que os juros dos EUA serão mantidos em níveis restritivos por mais tempo, na véspera da decisão monetária do Federal Reserve (Fed), e o dado fraco de indústria na China levantam temores de uma eventual desaceleração da demanda pela commodity. No acumulado do mês, as perdas chegaram a até 10%.
Na New York Mercantile Exchange (Nymex), o petróleo WTI para dezembro fechou em queda de 1,56% (US$ 1,29), a US$ 81,02 o barril. Enquanto isso, o Brent para janeiro, negociado na Intercontinental Exchange (ICE), recuou 1,54% (US$ 1,33), a US$ 85,02. Em comparação com o último fechamento de setembro, o WTI mais líquido caiu 10,30% e o Brent desvalorizou 6,77%.
Dólar e DIs
Por sua vez, o dólar encerrou a sessão com queda de 0,11%, cotado a R$ 5,041 na venda e na compra. O DXY, índice que mede a força da moeda americana frente a outras de países desenvolvidos, fechou com alta de 0,50%.
“No mercado internacional, o dólar opera em alta frente a outras moedas mundiais. O DXY, índice que mede a performance do Dólar frente as principais moedas globais, opera em alta. Porém, na contramão das principais moedas globais, o Dólar opera em leve queda frente ao Real. Tal movimento pode ser compreendido como uma correção às fortes altas de ontem e sexta, após as falas do Presidente Lula e do Ministro Haddad”, considera Elcio Cardozo, especialista em mercado de capitais e sócio da Matriz Capital.
A curva de juros brasileira teve oscilação durante o mês e encerrou o dia sem direção definida. Os DIs para 2025 caíram 54 pontos-base, a 11,10%, as taxas dos contratos para 2027 avançaram 40 pontos, a 11,28%, e bem como as dos para 2029, que subiram 17 pontos e foram a 11,28%. Os DIs para 2031 caíram 8 pontos, a 11,80%.
Diante do cenário, o que esperar para novembro, que já se inicia com decisão de juros nos EUA e no Brasil logo em seu primeiro dia?
De acordo com analistas, os olhares seguem voltados para dados econômicos, principalmente dos EUA, que possam ditar os rumos das decisões de juros pelo Fomc.
Contudo, não será só a decisão que vai ditar os mercados, mas também o comunicado e as falas do presidente do Fed, Jerome Powell, em coletiva, após o anúncio da taxa, para comentar a decisão.
Ações, balanços e Copom
No Brasil, teremos ainda uma agenda cheia de resultados pela frente, com a temporada de balanços esquentando ao longo da semana que vem. De acordo com Bruna Sene, analista da Nova Futura Investimentos, a divulgação dos balanços deve “adicionar volatilidade às ações e ser um ponto de atenção para os investidores”.
“O Ibovespa ainda se encontra em um movimento de tendência de baixa e segue testando região importante de suporte em 112 mil pontos, que se perdida, pode indicar uma continuidade da queda do índice”, explica a analista.
No cenário doméstico, os dados econômicos conhecidos no mês que se encerra hoje foram suficientes para esperar manutenção da expectativa de dois cortes, de 50 bps, na taxa Selic pelo Copom.
Na semana passa, contudo, o Ibovespa repercutiu as preocupações com a viabilidade da meta fiscal no Brasil para 2024, após falas do presidente Lula sobre dificuldade de atingir a chamada “meta zero”.
“O cenário é desafiador para a Bolsa brasileira em novembro. Sem uma visão minimamente clara de como será o fiscal em 2024, o mercado local não deve apresentar força compradora”, explica Leandro Petrokas, diretor de Research e sócio da Quantzed.
Por fim, hoje, o Ibovespa teve como maiores altas da sessão a Gol (GOLL4), com avanço de 8,92%, a R$ 8,55 e o Grupo Pão de Açúcar, com alta de 8,38%, a R$ 3,62. No campo negativo, o destaque foi para Braskem (BRKM5), que perdeu 3,08%, a R$ 16,07.
No mês de outubro, Magalu e Casas Bahia foram as maiores baixas do mês, em um período de baixa das ações de varejistas, enquanto Gol teve forte alta.