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Campeão das finanças: relembre a entrevista do palmeirense Paulo Nobre ao InfoMoney

O atual presidente do Palmeiras e "eterno" trader da Bolsa de Valores concedeu uma nova entrevista à InfoMoneyTV, que vai ao ar na próxima segunda-feira (28); enquanto isso, relembre a entrevista concedida ao InfoMoney no final de 2015

Thiago Salomão

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Na manhã da próxima segunda-feira (28) irá ao ar na InfoMoneyTV uma entrevista exclusiva feita com o presidente do Palmeiras, Paulo Nobre. A conversa de aproximadamente 40 minutos foi gravada no último dia 17 de novembro direto da sala do presidente.

Enquanto a entrevista em vídeo não é divulgada, relembre a conversa que o InfoMoney teve com Nobre no final de 2015, em entrevista que foi publicada na Revista InfoMoney. Confira abaixo:


Matéria publicada originalmente na Revista InfoMoney edição 58 (setembro/outubro 2015)

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Com os cabelos cada vez mais grisalhos desde que assumiu a presidência do Palmeiras, Paulo Nobre é advogado por formação, mas também um personagem do mercado financeiro. Investiu por conta própria em ações durante boa parte da vida e tem um perfil de risco que ele próprio define como extremamente agressivo. Herdeiro de uma pequena fortuna, o executivo fez o dinheiro crescer ainda mais com investimentos, principalmente em renda variável. Mesmo ligado às finanças, Nobre gosta de frisar que jamais teve participação societária no Itaú Unibanco, como dizem alguns boatos. “Se eu tivesse 1% do Itaú o Palmeiras não perdia nem do Real Madrid,” costuma brincar.

Foi trazendo na bagagem toda sua experiência do mercado financeiro que ele conseguiu fazer uma verdadeira revolução à frente do alviverde paulista. Em crise até sua chegada, o Palmeiras passou a ver as contas fecharem no azul graças ao sucesso do programa de sócio torcedor e aos contratos de patrocínios fechados para o Allianz Arena, o moderno estádio inaugurado em 2014. Em entrevista ao InfoMoney, ele contou como emprestou dinheiro do próprio bolso para ajudar o Palmeiras a pagar as dívidas e explicou o modelo de gestão que adotou desde que assumiu a presidência do clube. 

INFOMONEY: Você pegou um time rebaixado, sem um patrocínio master e com uma péssima situação financeira. Hoje, o elenco é competitivo e tem a camisa mais valiosa do Brasil. Que medidas você tomou para esse “turnaround”? 
Paulo Nobre: Quando você cumpre com as suas obrigações, acaba gerando novos investimentos. Em 2013, o difícil não era a falta de dinheiro. Isso você pode reverter da noite para o dia. O que você não recupera instantaneamente é a credibilidade. O Palmeiras era um time em total descrédito. Não era nem questão de dinheiro. O jogador não queria vir jogar no Palmeiras.

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A gestão 2010 adiantou em cinco anos o recebimento de toda a verba do Campeonato Paulista. Foram adiantadas as receitas de 2011 e 2012, ou seja, da gestão posterior, e de 2013, 2014 e 2015. Esse ano eu ainda não recebi as receitas do Campeonato Paulista, porque elas foram adiantadas em 2010 e já foram gastas. Certas contratações foram de bons jogadores, mas está na cara que o Palmeiras não tinha condições de trazê-los naquele momento. Foram negociações completamente estranhas. Uma vez que identificamos esse quadro dantesco nas finanças do clube, precisávamos pagar os salários em dia. Não quero que a imagem do Palmeiras seja de um clube que oferece os melhores salários, mas que paga religiosamente em dia e que saibam que o profissional aqui é tratado com respeito.

Hoje eu já administro uma situação com mais tranquilidade, mas da primeira vez que me deparei com as contas do clube foi outra história. Eu adiantei dinheiro de 2013 e vi que a taxa de desconto era de 20% ao ano. Em 2014 esta taxa foi de 28%. É um buraco infindável. É impossível você pagar uma dívida dessas. Então eu decidi pegar dinheiro no mercado financeiro em meu nome e repassar para o Palmeiras nas mesmas condições que o mercado me ofereceu. Eu pegava emprestado pagando 110% ou 111% do CDI (Certificado de Depósito Interbancário) e repassava para o Palmeiras imaginando que ia surgir um patrocinador master, já que o ano seguinte seria comemorado o centenário do Palmeiras. Foi quando eu percebi que 2014 era o ano do centenário só para o palmeirense. Para o mercado inteiro era o ano da Copa do Mundo no Brasil.

Então resolvemos ser mais pragmáticos. Eu vendi minhas ações e aportei dinheiro direto no clube, tirando o mercado financeiro como intermediário, o que era muito mais barato. Eu não pus dinheiro para comprar jogador ou para fazer obra, eu coloquei o dinheiro para a roda não parar de girar. O Palmeiras custava R$ 14 milhões por mês naquela época. Era só para pagar as contas de luz, água, o porteiro, o garçom e os salários dos jogadores.

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Pagar um salário em dia é algo que deveria ser normal, mas como ninguém estava fazendo isso, na hora em que eu comecei tinha algum diferencial. Trabalhamos esta imagem para conseguir trazer algumas revelações no final de 2013, como o Marquinhos Gabriel e o William Matheus. Eles foram embora logo depois, mas pelo menos eu já tinha conseguido trazer eles para o Palmeiras. Me perguntam se eu não queria ganhar a Libertadores em 2013. Eu era o presidente, lógico que queria, mas tínhamos um campeonato fundamental naquele ano, a série B do Brasileiro. Tínhamos que subir. Então nos concentramos nisso e subimos com 6 rodadas de antecedência.

IM: Você acha que as emoções acabam afetando em algumas decisões? Sabemos que você não quer citar nomes, mas para alguns, os presidentes anteriores deixaram o lado emocional atrapalhar.
PN: É por isso que eu gosto de trabalhar com profissionais. Esse aqui, por exemplo, é corintiano [aponta para o assessor de imprensa]. Se ele é bom pode trabalhar aqui. Eu não pergunto para qual time torce o centroavante, o goleiro ou o técnico. Eu quero ter cara bom do meu lado. Tem gente que acha que tem que ir mais para o lado do amadorismo e trabalhar com diretores estatutários. Eu não concordo e acho que o futebol mudou. O jogo se profissionalizou nos anos 30 só de um lado do balcão. Do outro lado, o dos dirigentes, continua sendo amador. Hoje não dá para você vir no clube duas vezes por semana no período da tarde. Você tem que ter uma dedicação em tempo integral, porque isso aqui é uma empresa com 16 milhões de consumidores. 

Você precisa trabalhar com gente profissional para pensar fora da caixa. Hoje eu as receitas com o sócio torcedor equivalem a um patrocínio master e meio. É preciso ter criatividade para criar novas fontes de receita e aumentar o bolo. Quando alguém imaginou que um túnel de entrada no campo, ou que um balão em forma de porco poderiam gerar receita? 

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Agora vamos criar um cartão de débito pré-pago com o nome do programa de sócio torcedor. A princípio a bandeira será Visa. Podemos ganhar dinheiro também com as movimentações. Eu procuro pensar no que ainda não estamos fazendo. Tentamos sair da normalidade, olhar para os adversários e ter a humildade de copiar o que dá certo. No mercado financeiro é assim. Se você cria um fundo que é muito interessante, em dois ou três meses seus concorrentes vão criar outro com as mesmas características. 

IM: O que você acha que trouxe do mercado financeiro para a gestão do futebol? 
PN: O mundo do futebol é muito bagunçado e eu vejo uma grande falta de vontade política de tornar as coisas transparentes. Como em todo meio, tem gente bem intencionada e mal intencionada, e os mal intencionados não querem que as coisas fiquem transparentes. O controle fica muito mais difícil. No clube, por exemplo, eu instalei a aplicação de gestão e governança SAP, que acabou com todo o problema. O programa identifica tudo e deixa rastro. Se isso funciona para uma empresa, funciona para o clube também. 

Esse tipo de coisa enfrenta muita resistência porque afeta toda a maneira de fazer os processos. Mas quem não estiver satisfeito que vá trabalhar em outro lugar. Outra coisa que eu trouxe do mercado foi a produtividade, que era a grande chacota em 2013 e hoje é uma realidade. Se você é titular, merece receber determinado valor. Se não for, eu não vou diminuir seu salário, mas você só vai ter um bônus nos jogos que entrar. 

IM: Percebemos que as pessoas do mercado financeiro veem dinheiro em tudo. Você acredita que isso ajuda? E você falou em copiar o que deu certo. Quais foram os modelos do Palmeiras? 
PN: Eu pego modelos de qualquer lugar que dê certo. Um exemplo é o “aeroporco” ou “air pork one” [balão em forma de porco] (risos). Fui para os EUA em janeiro participar de uma convenção de executivos do esporte e aproveitei para passar em Orlando para conversar com um contato meu no Orlando Magic, um time de basquete que sabe fazer marketing como ninguém. Fomos assistir a um jogo e eu vi um “zeppellin” [um balão em forma de dirigível] voando dentro do ginásio. Eu fotografei, mandei para a minha equipe e disse: “eu também quero”.

O programa de sócio torcedor também é um exemplo. O maior clube do mundo [em número de sócios torcedores] é o Benfica. Quando eu trouxe o Alan Kardec conversei muito com o diretor de marketing do time português e ele tinha um departamento com 60 pessoas dedicadas a isso. Eu tento ver como ele conseguiu tanto sócio torcedor e vou procurando fazer igual. Lá eles dão desconto na gasolina. Aqui, a FAM (Faculdade das Américas) dá 25% de desconto para quem é Sócio Avanti (nome do programa de sócio torcedor do Palmeiras). Teve até um caso de um corintiano que virou sócio torcedor para poder ter direito a esse benefício.

IM: Como foi a sua carreira no mercado financeiro?
PN: Eu estudei Direito. Sou advogado de formação e fui trabalhar no Banco Francês Brasileiro. O superintendente era amigo do meu pai e perguntou se eu queria fazer estágio e ir para o jurídico. Eu disse que não, que se eu pudesse escolher passaria em todas as áreas do banco menos a jurídica. Isso eu já tinha na faculdade e queria conhecer o mercado financeiro. Sempre gostei de números. Daí me apaixonei.

Depois eu resolvi cuidar do patrimônio que tinha herdado. Minha mãe faleceu quando eu era adolescente, e por volta de 1987 eu resolvi trabalhar no mercado acionário. No começo dos anos 1990 fiquei ainda mais ativo nesta área. E eu sou muito agressivo [em relação ao perfil de risco]. Então na hora de abrir conta na corretora eu optei pelo perfil mais agressivo de todos. Eu tenho muito apetite por risco com o meu dinheiro. Nunca trabalhei para terceiros, mas já apliquei para uns 10 amigos. Aí é bem diferente. Com o meu dinheiro eu não sofro.

Uma das grandes cartadas da minha vida foi quando eu estava correndo o Rali dos Sertões e o Lula estava crescendo nas pesquisas eleitorais. O mercado começou a precificar o Brasil como um país quebrado. Eu lembro que estava em Xique-Xique [um município da Bahia] para largar no rali. Liguei para São Paulo e fiquei sabendo que as ações tinham caído muito. Então falei no banco: “resgata tudo da renda fixa e coloca nestas 5 empresas”.

IM: Quais eram essas empresas? 
PN: Na época eu investi em Braskem, Bradesco, Itaú Unibanco, Vale e Petrobras. O Lula entrou e não fez nada daquelas coisas que as pessoas estavam falando. Foi uma das grandes cartadas que eu dei. As ações subiram muito.

IM: Você ainda investe? Ainda tem aquele perfil agressivo?
PN: Não, agora não estou mais na Bolsa. Tem uma pessoa no mercado que cuida de 100% dos meus investimentos no Brasil e no exterior. Como eu não estou no dia a dia, ela me colocou em um perfil muito mais conservador. Eu nunca tive tanto investimento em renda fixa (risos). 

IM: Então você atuou como investidor desde meados de 1990 até assumir o Palmeiras?
PN: Isso.

IM: Você operava opções também?
PN: Sim, com certeza [dá um assovio e olha o teto como se lembrasse de alguma coisa muito boa]. 

IM: E já perdeu muito com opções?
PN: Já. Teve uma época em que eu ganhei de colher, depois de xícara e perdi de balde. Opção é uma coisa que vicia porque triplica seu capital em um dia. A ação sobe 1% e a opção sobe 10%. Você corre contra o relógio porque no dia do vencimento ela pode virar pó. 

IM: Você lembra com qual opção você perdeu? Dependendo da época você perdeu com a OGX, não?
PN: Não me fale neste nome (risos).

IM: Você já pensou em largar tudo e viver de Bolsa?
PN: Eu sempre vivi disso. Foi multiplicando o meu capital em Bolsa que eu consegui correr rali, por exemplo. Eu sou herdeiro, mas multipliquei muito o que ganhei. Quando corria internacionalmente, eu conseguia operar ações de qualquer lugar do mundo com um laptop e um celular. Depois que virei presidente do Palmeiras é que perdi o tempo para fazer essas coisas. Operar Bolsa é que nem jogar golfe. Você não joga uma vez por mês. A gente tem que jogar sempre para ter consistência. Jogador de futebol que só entra na quadra de fim de semana tem problema no joelho, coração fraco, etc. Na Bolsa é a mesma coisa. Vender na baixa e comprar na alta muitas vezes acaba com o seu dinheiro. 

IM: Você acha que volta para a Bolsa quando sair da presidência do clube?
PN: Com certeza. É a única coisa que eu sei fazer.

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Thiago Salomão

Idealizador e apresentador do canal Stock Pickers