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SÃO PAULO – 11 de janeiro de 2017: o mercado era surpreendido pelo corte inesperado de 75 pontos-base do Copom (Comitê de Política Monetária), que levou a Selic de 13,75% para 13% ao ano, o que fez com que vários economistas refizessem suas projeções sobre qual seria a taxa básica de juros no final do ano. Na época, publicamos aqui no blog “O Investidor de Sucesso“ um texto mostrando as 7 maneiras que a queda da Selic impactaria a bolsa (link aqui).
Hoje, praticamente 8 meses depois, vimos que a profecia se cumpriu: na última quarta-feira (6), o Copom reduziu a Selic pela 8ª vez consecutiva, desta vez em 100 pontos-base. Assim, a taxa básica de juros que começou o ano em 13,75%, agora encontra-se em 8,25%. Nas duas últimas reuniões que teremos esse ano, a expectativa do mercado é de que a Selic caia para até, quem sabe, abaixo de 7% ao ano (leia mais sobre projeções aqui).
Aproveitamos este momento para mostrar como estes 7 setores ou subsetores da bolsa performaram na bolsa durante estes quase 8 meses. Mas antes de adentrarmos nestes subgrupos, vou usar a explicação que a Rio Bravo Investimentos, gestora fundada pelo ex-presidente do Banco Central, Gustavo Franco, utilizou em sua última carta mensal para explicar por que a queda de juros ajuda o mercado de ações:
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“Ações são fluxos de caixa no tempo, e o mesmo pode ser dito sobre imóveis, fundos imobiliários e títulos de renda fixa. Quanto mais longo, maior o potencial de ganho, basta lembrar que o conceito de ‘duration’ é referente à elasticidade do preço de um ativo com relação à taxa de juros”. Em outras palavras: ao trazer o fluxo de caixa futuro de uma ação a valor presente, a taxa de juros menor deixará a taxa de desconto menor, logo este “valor presente” será maior. Sendo mais purista ainda: Selic para baixo = bolsa para cima! (considerando que todas as outras variáveis que afetam o preço de uma ação permaneçam as mesmas – o que nunca é realidade…)
Confira como a queda da Selic impacta a bolsa de 7 maneiras diferentes:
1) Imobiliárias
É importante ressaltar que a relação da Selic com a queda nos juros do financiamento imobiliário no Brasil não é tão simples assim como ocorre nos outros países. Isso porque o financiamento imobiliário por aqui vem de veículos como o FGTS (Fundo de Garantia por Trabalho e Serviço) e a poupança, que não possuem lastro na Selic, mas sim na TR (Taxa Referencial). Porém, cortes da Selic têm impacto sobre essas empresas porque normalmente denotam uma melhora no ambiente inflacionário e pela percepção do investidor estrangeiro, que tende a se comportar como se a composição da taxa de juros para os imóveis fosse como no seu país de origem, comprando ou vendendo de acordo com a trajetória dos juros. Vale lembrar que os estrangeiros respondem por mais da metade do volume financeiro negociado na Bovespa.
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Para ter uma ideia do impacto no mercado, o IMOB (Índice de ações que acompanha empresas do setor imobiliário e de shopping centers) subiu 25% de 12 de janeiro até o último fechamento, acima do desempenho do Ibovespa, que no mesmo período avançou 17,6%. Nesse período, destaque para o desempenho de Even (EVEN3, +30,7%) e Eztec (EZTC3, +32,4%).
2) Administradoras de shopping centers
Falando das empresas de shopping centers, que também fazem parte do IMOB, o desempenho delas foi ainda mais expressivo, pois as imobiliárias tiveram contra elas os problemas envolvendo distratos (que na prática é quando o comprador de um imóvel pode desistir da compra e receber o valor investido). Já as operadoras de shoppings têm um fluxo de recebíveis ligado à taxa pré de longo prazo. Em um período de queda da Selic, receber em taxa prefixada e pagar em posfixada é uma boa forma de lucrar. De acordo com um teste de sensibilidade elaborado pelo BTG Pactual, para cada redução de 100 pontos-base da Selic, as companhias podem ganhar até 10% de FFO (Funds From Operations), engordando a geração de fluxo de caixa.
O desempenho acumulado no período pelas ações da Sonae Sierra (SSBR3, +65%), Iguatemi (IGTA3, +38%), BR Malls (BRML3,+19%) e Multiplan (MULT3, +20,2%) reflete bem como elas digeriram bem essa mudança de cenário.
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3) Consumo e Varejo
Como o juros em queda beneficia a retomada do crescimento econômico, empresas que acompanham o ritmo da atividade do Brasil tendem a se beneficiar com esse movimento. É o caso de empresas de consumo e varejo, que ganham pela redução do financiamento, o que estimula as compras no lado da demanda e também propicia ao empresário (no lado da oferta) a tomar mais decisões de ampliar seus negócios.
Entre as ações que mais se beneficiaram de tudo isso, especialmente em termos de resultados, os holofotes ficam para Magazine Luiza (MGLU3, +595%), B2W (BTOW3, +75,5%), Lojas Renner (LREN3, +55%), Guararapes (GUAR3, +116%), Arezzo (ARZZ3, +91,2%), Restoque (LLIS3, +49,3%) e Hering (HGTX3, +70,2%).
4) Pagadoras de dividendos
Entre as ações que pagam bons dividendos, é de se esperar que muitas ganhem atratividade pelo “dividend yield” (dividendo por ação dividido pelo preço por ação), já que, dependendo de quanto elas pagarem e de qual magnitude for o corte da Selic, o investidor que comprar um papel pode ganhar bem mais em uma distribuição de proventos do que receberia de juros comprando títulos de renda fixa. Vale sempre lembrar, contudo, que o risco da renda fixa é menor que o das ações, então é preciso sempre ter cuidado ao fazer esse tipo de comparação.
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Naturalmente, esse time era formado quase todo por empresas do setor elétrico, mas companhias imobiliárias começaram a figurar nesta lista em 2017, pois tendem a voltar a reportar lucro neste ano. Entre elas, Helbor (HBOR3, +23,4%) e Direcional Engenharia (DIRR3, +9,4%) chamaram a atenção. Do lado das tradicionais pagadoras de dividendos, Taesa (TAEE11, +11,1%), Smiles (SMLE3, +74%), BB Seguridade (BBSE3, +3,4%), Vivo (VIVT4, +11,4%) e Qualicorp (QUAL3, +79,5%).
5) Concessões e infraestrutura
As concessionárias possuem fluxos de caixa previsíveis por trabalharem com grandes projetos de longo prazo com valuations próprios. Cada projeto tem uma TIR (Taxa Interna de Retorno) estabelecida e a atratividade dos papéis dessas companhias é majoritariamente determinado pela diferença entre a Selic, que é a nossa taxa livre de risco, e essa TIR, que embute o risco do empreendimento. A lógica é que quanto menor a taxa de juros, maior a atratividade das concessionárias, uma vez que a diferença para os ganhos com investimentos no setor é menor e, para o investidor, fica mais atrativo correr o risco do investimento.
Entre as ações do setor, CCR (CCRO3, +8,2%), Ecorodovias (ECOR3, +29,4%) e Rumo (RAIL3, +41,3%) foram apresentaram bom desempenho no período entre janeiro e setembro.
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6) Endividadas
Um grupo de empresas que também tende a ganhar com a queda da Selic são aquelas que possuem uma elevada dívida financeira. Em geral, essas dívidas estão atreladas ao CDI (Certificado de Depósito Interbancário), que segue de perto a Selic, e, com a queda dos juros, há uma substancial redução das despesas financeiras, impactando diretamente no lucro líquido das companhias – em uma “DRE” (Demonstração de Resultados do Exercício), a linha “Resultado Financeiro” fica entre o resultado operacional e o lucro líquido. Assim, quanto menores as despesas financeiras, maior ficará a última linha do resultado (no caso, o lucro).
Dentre as empresas alavancadas que se destacaram nesse período, a mais emblemática é a Usiminas (USIM5): com uma dívida líquida de R$ 5 bilhões, a siderúrgica viu suas ações preferenciais subirem cerca de 80% entre 12 de janeiro e 6 de setembro.
7) BM&FBovespa
Como a redução da Selic diminui a atratividade da renda fixa em relação ao mercado de renda variável, com os investidores em busca de retornos maiores por conta da queda do rendimento dos ativos indexados à Selic, a B3 (ex-BM&FBovespa, BVMF3) é impactada diretamente por esse processo, uma vez que cresce o volume negociado em bolsa e isso tem reflete em maiores receitas para a empresa.
Com o ambiente propício para o mercado acionário, cresce o interesse das empresas em realizarem IPOs, já que existe uma probabilidade maior da precificação ficar mais próxima do teto da oferta, em vista da maior demanda, e, assim, otimizar a captação de recursos. Além disso, a empresa deve colher ao longo dos anos a sinergia gerada pela fusão com a Cetip, operação essa que praticamente criou um oligopólio no mercado de renda faixa e variável no Brasil. Em vista da queda da Selic, as ações da B3 saltaram 26% entre 12 de janeiro e o último fechamento.