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SÃO PAULO – A primeira metade de 2021 foi positiva para o Ibovespa, que subiu 6,54%, ainda que as últimas semanas tenham sido de turbulência com a proposta de reforma tributária e as indicações mais “hawkishs” (sinalizando alta de juros) do Banco Central do Brasil e do Federal Reserve.
Algumas ações do Ibovespa, contudo, tiveram ainda mais destaque, com quatro delas subindo ao menos 100% nos primeiros seis meses do ano, enquanto cinco delas tiveram baixa de ao menos 20%. Confira quais papéis se destacaram – positiva e negativamente – no índice neste período:
Maiores altas do semestre
Braskem (BRKM5; R$ 59,55, +152,65%)
Maior alta do ano até agora com certa folga, a petroquímica Braskem iniciou o ano praticamente de lado, engatando um forte movimento de alta a partir de fevereiro em meio a boas notícias que ajudaram a impulsionar seus papéis.
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Ainda em fevereiro, as ações registraram fortes altas com as avaliações sobre o impacto do fenômeno de afundamento do solo em Maceió que causou a realocação de milhares de famílias na capital alagoana, que custará R$ 10,1 bilhões em provisões totais para cuidar do acontecido.
A notícia em si era negativa mas, apesar disso, a empresa explicou que o desembolso previsto para este ano não iria afetar sua geração de caixa operacional uma vez que ela possui recursos que incluem R$ 1 bilhão em créditos de PIS/Cofins que espera monetizar neste ano e R$ 1,7 bilhão em reparação a ser recebida de companhias de seguro.
Pouco tempo depois, a Braskem informou que a unidade no México Braskem Idesa (BI) assinou contrato de prestação de serviço de transporte de gás natural com agência do governo mexicano, após ser notificada sobre interrupção do serviço de transporte de gás natural em dezembro do ano passado. Outro fator que puxou os papéis na virada de fevereiro para março.
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“Com a assinatura desses documentos pela BI, a BI começou a receber, desde já, o serviço de transporte de gás natural que havia sido interrompido unilateralmente”, afirmou a Braskem na ocasião, acrescentando que o contrato com o Centro Nacional de Control del Gas Natural (Cenagas) tem prazo final de 15 anos.
No final do ano passado, a Braskem Idesa anunciou que estava paralisando as atividades operacionais no Complexo Petroquímico do México após ser notificação pelo Cenagas sobre interrupção do transporte de gás natural, destacando que se trata de insumo energético essencial para produção de polietileno.
O resultado da companhia foi mais um dos fatores positivos no primeiro trimestre. A Braskem conseguiu reverter o prejuízo do quarto trimestre de 2019 para um lucro de R$ 846 milhões entre outubro e dezembro do ano passado. Apesar disso, a petroquímica teve prejuízo líquido de R$ 6,69 bilhões em 2020, 139% maior ante o prejuízo de R$ 2,79 bilhões um ano antes. A receita líquida foi de R$ 18,7 bilhões no quarto trimestre de 2020, alta de 48% ante o resultado do quarto trimestre de 2019. Em 2020, a receita da companhia foi de R$ 58,5 bilhões, alta de 12% sobre 2019.
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Os resultados foram positivamente impactados no trimestre pela maior demanda de resinas termoplásticas no Brasil, pela retomada da indústria em geral e ritmo acelerado da construção civil, demanda forte por plásticos e polímeros diversos nos EUA e Europa, além da desvalorização do real frente ao dólar favorecendo a conversão de caixa e impulsionando os resultados obtidos.
Além do ótimo noticiário, analistas também elevaram as perspectivas para a empresa na virada do primeiro trimestre e o próprio presidente da Braskem, Roberto Simões, prometeu um 2021 positivo, puxado principalmente pelas perspectivas sobre os spreads dos produtos e a demanda de resinas renováveis, em que a companhia é a maior produtora do mundo.
Em abril, as ações da companhia figuraram pelo terceiro mês seguido entre as melhores do Ibovespa com mais notícias positivas. Diferentes veículos de imprensa levantaram rumores sobre a Odebrecht (hoje Novonor) vendendo sua fatia na Braskem, assim como a Petrobras também em conversas para se desfazer de sua participação.
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Jornais apontam que a briga pelos ativos da companhia podem ser grande, com a holandesa LyondellBasell e o fundo soberano dos Emirados Árabes Unidos, Mubadala, entre os potenciais compradores das fatias (veja mais clicando aqui).
E esse movimento tem sustentado as ações desde então, com novidades nesse fim de semestre com a notícia do Valor Econômico de que o prazo para recebimento das propostas iniciais de compra da Braskem, que se encerraria nesta quarta-feira, foi estendido até o dia 9 de julho a pedido de potenciais compradores.
Logo que as notícias sobre a venda começaram a circular, a equipe de análise da Levante Ideias de Investimentos avaliou o cenário como positivo para a petroquímica, já que ela finalmente poderia destravar o processo de migração para o Novo Mercado, “dando um toque final à sua estrutura de governança corporativa que passou por importantes melhorias nos últimos anos”.
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Todo esse noticiário, seguiu levando a um maior otimismo por parte dos analistas. Recentemente, o Morgan Stanley afirmou que, ao contrário da expectativa do mercado para o final de 2020, o ritmo do mercado petroquímico continua forte em 2021, com spreads historicamente altos para os setores de polipropileno e propileno, devido a interrupções na oferta, especialmente após uma tempestade de inverno recente afetar a capacidade do Golfo dos Estados Unidos; alta demanda, beneficiada por maior necessidade de empacotamento na pandemia; e níveis de estoque baixos.
A estimativa de Ebitda do banco, de US$ 4 bilhões, ficou 32% acima de sua projeção anterior, e 70% acima do consenso do mercado. O Morgan ainda elevou a expectativa para 2022 em US$ 2,771 bilhões. Com base nas conversas recentes, o banco diz acreditar que investidores estão trabalhando com presunções para o Ebitda em 2021 mais perto de entre US$ 3,5 e US$ 3,9 bilhões.
Banco Inter (BIDI11, R$ 77,79, +137,11%)
No Ibovespa desde 3 de maio apenas, o Banco Inter chegou a aparecer entre as maiores quedas do índice em seu primeiro mês, mas mesmo assim não foi suficiente para tirar da companhia umas das maiores valorizações de 2021 até agora.
Apesar de ser um banco, o Inter é considerado por muitos como uma companhia de tecnologia, o que explica muito de sua valorização neste primeiro semestre, que foi bastante marcado por um desempenho forte deste setor em Wall Street, o que também ajudou outras empresas ao redor do mundo, incluindo o Brasil.
Até entrar no Ibovespa, as units BIDI11 já acumulava ganhos de 135% no ano, coincidindo então sua estreia não só a uma correção natural após o rali, mas também a um cenário negativo no exterior, diante do movimento de saída de investidores de empresas mais ligadas à tecnologia em meio aos sinais de aumento da inflação nos EUA (saiba mais clicando aqui).
Porém, ainda no mês passado, os ativos do Inter voltaram a ganhar força após anunciar mudanças significativas em sua estrutura acionária. A companhia informou um follow-on, com a Stone como investidor âncora. A companhia de pagamentos listada nos EUA se propôs a investir até R$ 2,5 bilhões em uma oferta que era prevista para chegar até R$ 5 bilhões.
“Esperamos que a parceria possa ser o começo de algo mais duradouro, possibilitando a troca de mais produtos e serviços entre as plataformas. Ambas as companhias procuram diversificar seus produtos e possuem uma base de clientes complementar, com a Stone focada no público PJ e o Inter no público PF (apesar de a base de clientes empresariais estar crescendo)”, disseram os analistas da Levante Ideias de Investimentos na ocasião.
A operação foi encerrada na última semana, com as ações do Inter precificadas em R$ 57,84 por unit e R$ 19,28 por ação, levantando assim R$ 5,5 bilhões, ficando acima do esperado inicialmente.
Com esse aporte, a Stone passa a ter até 4,99% do capital do Inter, tendo direito a um assento no conselho, ela ainda entrará para o acordo de acionistas e afirma que a parceria poderá levar seus clientes ao shopping virtual (marketplace) do banco, entre outros benefícios. Esse investimento coloca a Stone junto aos atuais controladores do Banco Inter – os Menin, que comandam a empresa através da Inter Holding Financeira, que detém 35,35% do capital.
Na época do anúncio da oferta, analistas do Bradesco BBI disseram que a parceria estratégica faz muito sentido para ambas as partes. Aproveitando a Intershop, a Stone pode conectar sua rede comercial para um canal de distribuição online, que deve ser especialmente importante para pequenas empresas que anteriormente não tinham acesso a este canal.
Além disso, a integração dos canais físicos e online da Stone com os clientes do Banco Inter também pode melhorar a experiência do usuário e fornecer oportunidades de venda cruzada, avaliam. Por último, a Stone poderia se beneficiar do acesso do Inter a financiamento barato, o que poderia ajudar com a distribuição de seus negócios de crédito/pré-pagamento.
Embraer (EMBR3, R$ 18,87, +113,22%)
Bastante prejudicada pela pandemia e paralisação de viagens no mundo todo, a fabricante de aeronaves Embraer iniciou um processo de forte alta das ações desde fevereiro.
A valorização dos ativos foi puxada inicialmente pela notícia de que ela estava discutindo com a companhia aérea alemã Lufthansa a venda de aeronaves. No dia 17 de fevereiro a Bloomberg divulgou as informações, citando que CEO da Lufthansa, Carsten Spohr, disse que a companhia alemã iria buscar uma reestruturação de frota para lidar com o impacto do coronavírus no setor aéreo.
Alguns dias depois, a Embraer, questionada pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) sobre a forte alta das ações, confirmou que estava em negociação com a Lufthansa, destacando na época que “as discussões não estão em estágio avançado”.
Já em março, a Embraer voltou a ganhar força na Bolsa após divulgar seu resultado do quarto trimestre. Apesar da alta do prejuízo no acumulado de 2020, que chegou a R$ 3,6 bilhões, no quarto trimestre a companhia teve recuperação, com prejuízo líquido de US$ 3,3 milhões no período, reduzindo significativamente o resultado negativo em relação ao mesmo período de 2019.
O balanço de fim de ano foi bastante beneficiado por mais entregas de jatos comerciais e aviões militares. Em teleconferência, Francisco Gomes Neto, presidente-executivo da companhia, afirmou que está trabalhando ativamente em novas parcerias de desenvolvimento de produtos e espera fazer um anúncio em breve.
Vale lembrar que nos últimos meses também tem ajudado na recuperação da companhia a expectativa de retomada da vida normal nos próximos meses, conforme a vacinação contra a Covid-19 ganha força ao redor do mundo.
Porém, um dos principais fatores que tem empolgado o mercado – e os analistas – está nos chamados veículos elétricos de decolagem e pouso vertical (eVTOL, na sigla em inglês), com a subsidiária da Embraer, Eve Urban Air Mobility Solutions, ou somente Eve, chamando atenção.
Em 1 de junho, a Eve anunciou uma parceria com a Halo para desenvolver produtos e serviços de Mobilidade Aérea Urbana (UAM) nos Estados Unidos e no Reino Unido. A parceria inclui um pedido de 200 unidades do eVTOL, com entregas previstas para começarem em 2026. Uma semana depois foi fechado um contrato para entrega de 50 “carros voadores” para a Helisul Aviation, empresa que opera helicópteros na América Latina. Mais recentemente, surgiram novos acordos para empresas com atuação em outros locais, como os Estados Unidos, por exemplo.
A principal notícia, porém, ficou para o anúncio de negociações para a fusão da Eve com a Zanite Acquisition, uma empresa de aquisição de propósito específico, ou SPAC na sigla em inglês. Esse tipo de companhia também é chamada de “empresa de cheque em branco”, já que é ela está listada na bolsa, mas sem um negócio estabelecido, buscando adquirir ou se unir com uma empresa privada, tornando-a pública sem precisar passar pelo processo tradicional de uma oferta pública de ações (IPO).
As companhias não confirmaram, mas segundo a agência de notícias Bloomberg, o acordo poderia avaliar a empresa combinada em cerca de US$ 2 bilhões, cerca de dois terços do valor atual de toda a Embraer. E mais do que todas essas notícias mostrarem o bom momento e ajudarem a certificar a oportunidade que pode ser esse mercado para a Embraer, esse valor da operação também traz uma nova visão para os investidores sobre a companhia (veja a análise completa clicando aqui).
Cia. Hering (HGTX3, R$ 34,21, +100,03%)
A varejista Cia. Hering andou de lado na Bolsa até o meio de abril, quando iniciou um forte movimento de valorização das ações após notícias envolvendo fusões, primeiramente uma que foi recusada e em seguida uma aprovada.
No dia 15 de abril, os papéis da companhia saltaram 28,13% após ela dizer não a uma proposta da rival Arezzo para que elas unissem seus negócios. Na ocasião, mesmo com o negócio não dando certo, o mercado passou a ver com melhores olhos para a Hering.
“Apesar de um forte compromisso com fusões e aquisições, além de crescimento, a Cia Hering pode ser uma empresa difícil de digerir [para a Arezzo]. Dito isso, acreditamos que os investidores devem se concentrar mais no lado positivo”, disseram os analistas do Credit Suisse na ocasião.
Na época, a equipe do banco suíço destacou, entre outras coisas, que a companhia passou a ser vista como um alvo de fusões e aquisições, o que, para uma ação deprimida, poderia levar a uma importante reação positiva do preço das ações.
Nos dias que se seguiram, os papéis seguiram ganhando força puxados também por um noticiário aquecido dentro do setor como um todo e diversos rumores de fusões e aquisições de outras companhias.
Porém, no dia 26 de abril, a Hering e o Grupo Soma anunciaram um acordo para fusão das duas empresas, levando a um salto de mais 26,19% do ativos HGTX3 em um dia, negócio que também foi bem avaliado pelos analistas.
Pedro Serra, gerente de Research da Ativa Investimentos, destacou a importância da notícia para a Hering, que com a nova estrutura pode acelerar seu movimento de virada após uma fase bastante complicada. Já, Henrique Esteter, da Guide Investimentos, ressaltou que o grupo Soma pode ter oferecido um valor elevado pela empresa, ajudando na avaliação do mercado para a ação subir (clique aqui para ver a análise completa).
No mês seguinte, a Hering voltou a aparecer entre as melhores do mês na continuidade do otimismo com a fusão com o Grupo Soma, além de também apresentar um bom resultado de primeiro trimestre.
A varejista registrou lucro líquido de R$ 19,76 milhões entre janeiro e março, uma alta de 291,8% ante o lucro de R$ 5,04 milhões apresentado um ano antes. A geração de caixa medida pelo lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) foi de R$ 14,3 milhões, alta de 25,8% na comparação anual, enquanto a receita líquida teve crescimento de 4,8%, para R$ 285,1 milhões.
CVC (CVCB3, R$ 27,72, +40,09%)
Após ficar entre as piores ações de 2020, em grande parte pelo impacto da pandemia do coronavírus no setor de aviação e turismo, a CVC tem conseguido aos poucos ganhar força.
Subindo em um ritmo gradual, com poucos pregões fora da curva, os papéis da companhia passaram a ser bastante beneficiados pela retomada do turismo conforme o Brasil – e outros países – avançaram com a vacinação, dando início à volta dos turistas, ainda que os brasileiros não possam ir para muitos países que proibiram a entradas de pessoas daqui.
Mais do que a retomada concreta, o avanço da vacinação em países europeus e nos Estados Unidos tem ajudado a aumentar as perspectivas para a companhia, que espera em breve ver aumentar o fluxo de pessoas saindo daqui para essas regiões.
Ainda em abril, a equipe do Bradesco BBI comentou o momento da CVC, dizendo que ela “navegou por mares agitados e há mais por vir”. Os analistas na época diziam estar “cautelosamente otimistas com a recuperação das viagens de lazer (52% das reservas da CVC) e mais cautelosos com as viagens de negócios (48% das reservas da CVC)”.
Mais recentemente, deu um impulso para as ações o anúncio da CVC de que ela estuda levantar recursos por meio de uma oferta pública primária de valores mobiliários.
“[A empresa] avalia constantemente alternativas de captação de recursos junto aos mercados de renda fixa ou variável, sempre alinhada com seu planejamento estratégico e as atuais condições”, comunicou a empresa no início de junho, informando que já entrou em contato com bancos de investimentos para realizar a operação.
De acordo com informações do Brazil Journal, a captação da CVC ficaria em torno de R$ 400 milhões a R$ 500 milhões, completando o levantamento de R$ 1,1 bilhão em três tranches num intervalo de aproximadamente nove meses.
Diante disso, na última semana, o BofA elevou a recomendação para as ações da companhia de underperform (desempenho abaixo da média do mercado) para compra, com preço-objetivo de R$ 33.
Os analistas destacaram as notícias sobre a companhia nos últimos nove meses, apontam que a a CVC rolou com sucesso dívidas que estavam para vencer e realizou emissões, sendo que um aumento de capital anunciado entre R$ 384 milhões e R$ 480 milhões deve fortalecer ainda mais o seu balanço patrimonial.
Embora impliquem em cerca de 34% de diluição, ambos ajudam a garantir a sobrevivência da CVC e posicionam a empresa a se financiar à medida que o segmento se recupera. Essas medidas, avaliam, estão permitindo ganhos de participação de mercado uma vez que rivais mais fracos lutam por financiamento ou saem da indústria.
Confira as maiores altas do Ibovespa no semestre:
Maiores baixas
Pão de Açúcar (PCAR3, R$ 38,66, -33,80%)
O primeiro semestre foi bastante movimentado para o Pão de Açúcar e, apesar de aparecer na liderança entre as maiores baixas do Ibovespa no ano, o desempenho de queda ocorre por conta da cisão do Assaí (ASAI3), sendo que o acionista que participou da operação foi beneficiado.
Em 1 de março, apenas um pregão, a ação do Assaí fechou em alta de 386% em estreia após cisão, enquanto o Pão de Açúcar caiu 66%. Apesar de assustadora num primeiro momento, já era em grande parte esperada pelo mercado; a forte baixa foi justificada, uma vez que o valor relacionado ao Assaí estava concentrado no grupo. Desde a cisão, os ativos PCAR3 já subiram 76,5%, enquanto o Assaí saltou 20,3% desde o pregão pós-cisão.
Além da cisão, os últimos meses foram bastante movimentados, com notícias sobre operações que poderiam destravar o valor do Pão de Açúcar.
No mês de junho, ganharam destaque os rumores sobre a venda do GPA pelo grupo Casino; no último dia 21, os ativos subiram quase 8% com as notícias sobre o tema. Caso haja uma mudança de controle da companhia – o que ocorreria caso o grupo Casino vendesse sua participação -, todos os acionistas minoritários teriam direito a vender suas ações pelo mesmo preço atribuído às ações detidas pelo controlador, ou o chamado “tag along”, uma das exigências do Novo Mercado.
Conforme destaca a Levante Ideias de Investimentos, em vista dessa possibilidade de tag along, é comum o mercado se movimentar para que as ações da companhia alvo de uma operação de fusão/aquisição se apreciem no curto prazo, de modo a ancorar um preço maior em caso de uma transação efetivada.
Os analistas da XP avaliaram que, apesar de acreditarem que notícias sobre os possíveis desinvestimentos podem trazer volatilidade para o papel, como a vista na véspera, mantêm recomendação neutra para o ativo PCAR3 por verem uma baixa probabilidade de concretização dessas operações no curto prazo.
Isso principalmente dado que o desinvestimento na Cnova, que os analistas veem como mais desafiador, é colocado como primeiro na lista e GPA Brasil, a que veem como a mais provável, é colocado como o último. Além disso, acreditam que o fato do grupo Casino estar aberto a vender todas suas operações do GPA sinaliza desafios na operação.
Sobre o potencial “spin-off” (ou cisão) da Éxito, a XP lembra que, em 27 de novembro de 2019, o GPA pagou R$ 9,5 bilhões para incorporar a operação através de uma oferta pública de aquisição de ações. Desde então, o peso colombiano apreciou quase 25%, enquanto os resultados da companhia têm apresentado melhora. Caso o spin-off ocorra, seria um movimento inverso do realizado há menos de dois anos pela companhia e que iria de encontro com o discurso da companhia sobre as sinergias entre as operações da América Latina e Brasil, na avaliação dos analistas.
IRB Brasil (IRBR3, R$ 5,77, -29,46%)
A maior queda do Ibovespa no ano de 2020 segue em baixa bastante expressiva em 2021. Apesar da companhia ter sido bem-sucedida em mostrar que está limpando o balanço e, assim, aumentar a confiança dos investidores após a turbulência ocorrida em 2020, analistas de mercado mostram ainda muita cautela sobre as perspectivas para a companhia.
No final de junho, a companhia divulgou os seus resultados preliminares dos quatro primeiros meses do ano. A companhia registrou um lucro líquido foi de R$ 1,9 milhão no período, ante um prejuízo líquido no mesmo período de 2020 de R$ 135,1 milhões. Ao excluir o efeito dos negócios descontinuados (run-off) e dos eventos não recorrentes (one-offs), o ressegurador obteve um lucro líquido de R$ 41,5 milhões entre janeiro e abril.
Em abril, o prejuízo líquido foi de R$ 48,9 milhões, ante um prejuízo líquido em abril de 2020 de R$ 170,1 milhões. Excluindo run-off e one-off, as perdas foram de R$ 38,9 milhões.
Em breve comentário, os analistas do Credit Suisse apontaram que os números foram negativos, com a estratégia de “re-underwriting” ainda cobrando seu preço. Eles reforçam que, mesmo desconsiderando o impacto da carteira run-off e outros itens pontuais, a empresa ainda registrou prejuízo de R $ 38,9 milhões no mês de abril. Os analistas do banco suíço possuem recomendação underperform (desempenho abaixo da média do mercado) para as ações IRBR3, com preço-alvo de R$ 7,50 para cada ativo.
De acordo com compilação de recomendações do IRB feita pela Refinitiv, apenas uma casa tem recomendação de compra, três possuem recomendação neutra e quatro recomendam venda, com preço-alvo médio de R$ 7,04.
Segundo os dados da Refinitiv, a única casa que mantém recomendação de compra para a ação IRBR3 é a Eleven, que restabeleceu no dia 17 de junho a cobertura para o ativo, com preço-alvo de R$ 12.
“A maior resseguradora brasileira ressurge das cinzas e busca retomar a confiança do mercado financeiro para refletir o
protagonismo de sua atuação no mercado de resseguros brasileiro. O ano de 2021 ainda é de arrumação e estimamos uma queda de 6,7% de prêmios, justamente desconsiderando os contratos descontinuados. Por outro lado, acreditamos que a virada da operação será rápida e a companhia deverá retomar o patamar de prêmios visto em 2020 já em 2022. Enfim,
entendemos que a companhia, apesar de tudo, manteve sua vantagem competitiva e know-how do setor”, apontam os analistas Carlos Daltozo e Raul Grego.
Daltozo e Grego ressaltam que têm uma visão na contramão do mercado por serem os únicos com recomendação de
compra. Eles avaliam que podem estar errados e a recuperação não vir na velocidade que esperam e a rentabilidade se estabilizar em um patamar inferior ao estimado, sendo este o maior risco para o call. Por outro lado, apontam que as vantagens competitivas do IRB Brasil e as barreiras de entrada no setor aqui no Brasil uma hora ficarão mais evidentes.
EzTec (EZTC3, R$ 31,11, -26,54%)
Apesar de ser focada em consumidores de média e alta renda, a rigor menos impactados em meio ao cenário de alta da Selic, as ações da EzTec registraram forte queda no semestre, também movida pelos últimos resultados. Além disso, a companhia desistiu no começo do ano de abrir o capital de seu braço corporativo, a Ez Inc.
O último resultado divulgado pela companhia, em 13 de maio, referente ao primeiro trimestre de 2021, foi abaixo do consenso do mercado, com a receita aquém das estimativas, afetada pelo menores ritmo de construção e vendas de estoque devido às restrições comerciais em São Paulo, ainda que compensada pela margem bruta mais alta no trimestre, conforme destacou a XP na ocasião.
Além disso, no balanço patrimonial, a EZTec reportou uma pequena queima de caixa de R$12 milhões, mas ainda encerrou com uma robusta posição de caixa líquido de R$1 bilhão.
Dias depois, em 18 de maio, o Credit Suisse reduziu a recomendação para a EzTec de outperform (desempenho acima da média do mercado) para neutra, com preço-alvo de R$ 44, destacando que é uma história “dependente de crescimento”. O banco destacou em análise posterior que a empresa está mais focada na margem do que na velocidade de vendas, mas que vem enfrentando uma nova realidade em relação aos fornecedores, com prazos de entrega mais longos e negociações mais difíceis.
Ultrapar (UGPA3, R$ 18,39, -20,73%)
Nem mesmo a venda de diversas de suas operações para focar nas oportunidades existentes na cadeia downstream de óleo e gás no Brasil fez com que a Ultrapar registrasse um bom primeiro semestre na B3.
Em maio, a companhia vendeu a Extrafarma para Pague Menos (PGMN3) em uma operação de R$ 700 milhões. Cabe ressaltar que, como referência, a Ultrapar pagou R$ 1 bilhão pela rede farmácias em novembro de 2013.
Já no final de junho, foi anunciado acordo de venda de sua participação na ConectCar Soluções de Mobilidade Eletrônica, por R$ 165 milhões, ao grupo Porto Seguro S.A.
No último mês do semestre, a Ultrapar ainda confirmou que fechou com a tailandesa Indorama um acordo de exclusividade para a venda de sua unidade química Oxiteno.
Conforme destaca a Levante Ideias de Investimentos, enfrentando problemas de rentabilidade desde 2017, em função da mudança na política de preços das refinarias pela Petrobras, a empresa decidiu focar no negócio principal. Com os recursos das vendas desses ativos (Extrafarma e Oxiteno), a Ultrapar pode levantar capital suficiente para finalizar a aquisição da Refinaria Alberto Pasqualini (Refap), em fase final de negociação com a Petrobras (PETR3;PETR4). Em janeiro, o Valor informou que a proposta apresentada pela Ultrapar à Petrobras para a compra da refinaria teria ficado entre US$ 1,2 bilhão e US$ 1,4 bilhão, enquanto a estatal informou que ainda estava em negociações com a empresa.
Para a casa de research, a compra da refinaria faz total sentido para a empresa por verticalizar seu negócio de distribuição de combustíveis e torná-lo mais competitivo. Isso porque os custos de produção seriam otimizados e a volatilidade dos preços de combustíveis diminuiria, melhorando o perfil de risco de duas operações de distribuição (Ultragaz e Ipiranga), além de possibilitar benefícios tributários e melhor geração de caixa.
Além do mais, a alavancagem financeira da companhia segue alta e aumentou durante a pandemia, com a empresa emitindo dívidas para manter o caixa robusto devido às incertezas apresentadas no ano passado. Portanto, avaliam os analistas, a venda de seus ativos não-prioritários seria o requisito principal para a compra da Refap, com o mercado entendendo que o nível de endividamento se manterá controlado, apesar de ainda estar alto.
BB Seguridade (BBSE3, R$ 23,10, -20,71%)
A BB Seguridade, por sua vez, teve uma mudança de CEO no final do semestre, com a saída de Marcio Hamilton Ferreira e a substituição por Ullisses Christian Silva Assis, atual Diretor Comercial e de Marketing da Brasilprev. A indicação será submetida ao comitê de elegibilidade da companhia e, após manifestação do órgão , seguirá ao conselho de administração para eleição.
Em relatório recente, o Bank of America destacou que a BB Seguridade terá um segundo semestre complicado, citando também o recente aumento de capital de R$ 600 milhões feitos na BrasilPrev por conta da alta da inflação.
“Os resultados do negócio de previdência devem continuar a ser prejudicados pela volatilidade e pelo descasamento na remuneração de ativos (IPCA) e passivos (IGP-M), levando em conta o pico de 15% no acumulado do ano do IGP-M, enquanto o IPCA aumentou apenas 3%”, destacaram os analistas. O BofA avalia que, se a inflação continuar em alta, um novo aumento de capital terá que ser feito pela companhia.
O banco também acredita que, enquanto a Brasilprev deve ser impactada por resultados financeiros fracos e competição maior, a Brasilseg deverá ser atingida pelo sinistros provocados pela Covid nos segmentos de vida e prestamista, enquanto o segmento rural pode ser impactado negativamente por uma estiagem generalizada no país.
Confira as maiores quedas do Ibovespa no semestre:
Empresa | Ticker | Cotação | Variação |
Pão de Açúcar | PCAR3 | R$ 38,66 | -33,80% |
IRB Brasil | IRBR3 | R$ 5,77 | -29,46% |
EzTec | EZTC3 | R$ 31,11 | -26,54% |
Ultrapar | UGPA3 | R$ 18,39 | -20,73% |
BB Seguridade | BBSE3 | R$ 23,10 | -20,71% |
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