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O Ibovespa fechou em queda de 0,59% nesta quinta-feira (12), aos 111.850 pontos. O principal índice da Bolsa brasileira, com isso, interrompeu uma sequência de seis altas, em um pregão marcado pelo escândalo contábil envolvendo a Americanas (AMER3).
“O grande assunto do dia nas mesas de operações foi a ‘inconsistência contábil’ de R$ 20 bilhões revelada ontem à noite pela Americanas. Após várias postergações no leilão de abertura, as ações da varejista começaram a ser negociadas no meio da tarde, com queda de mais de 75% em relação ao fechamento de ontem”, destaca Alexsandro Nishimura, economista e sócio da BRA BS.
As ações ordinárias da varejista registraram a principal queda do Ibovespa, fechando com uma baixa de 77,33%.
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Para Enrico Cozzolino, head de análise da Levante Investimentos, o acontecimento levanta preocupações quanto à possibilidade de outras companhias também terem problemas com créditos.
Os bancos também foram destaque entre as principais quedas da Bolsa brasileira. As ações preferenciais do Bradesco (BBDC4) caíram 2,34%, e as do Itaú (ITUB4), 1,40%. As unitárias do Santader recuaram 3,08%.
“Mais importante do que [saber se houve] a fraude ou não, é importante contextualizar essa questão no cenário macro brasileiro. O acontecimento corrobora a preocupação com recessão. O cenário de taxa de juros altos, historicamente, impacta o PIB, salários e o sistema crédito”, pontua Cozzolino.
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Além da questão da Americanas, especialistas chamam a atenção também para a coletiva do ministro da Fazenda, Fernando Haddad. O comentário é de que o ministro mantém a expectativa de controlar o déficit por meio das receitas, evitando encarar um possível corte de gastos mais relevante.
“Haddad fez comentários sobre as questões tributárias e sobre o déficit, que são coisas importantes e que precisamos saber. A volatilidade recente, em parte, se dá por conta das incertezas”, diz o especialista da Levante.
“A partir da entrevista do Haddad, as perdas do Ibovespa se aprofundaram, assim como dólar e juros se afastaram das mínimas do dia, conforme houve leituras de que algum irrealismo ao aventar até mesmo superávit primário neste ano, através de um ajuste focado na receita”, debate Nishimura. “As medidas contemplaram reestimativa de receitas, ações de receitas permanentes e de receita extraordinária e redução de despesas, com potencial de ajuste de mais de R$ 240 bilhões”.
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A curva de juros brasileira fechou sem direção única. Os DIs para 2024 ficaram estáveis, mas os para 2025 perderam 2,5 pontos-base, a 12,50%. Os contatos para 2027 recuaram um ponto, a 12,25%. Os DIs para 2029 e 2931 ganharam, respectivamente, dois e um pontos-base, a 12,36% e 12,40%.
“Juros futuros seguem em queda e ajustam as expectativas do mercado em relação ao equilíbrio fiscal. O anúncio das primeiras medidas econômicas pelo Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, foi direcionado às receitas com o intuito de equilibrar as contas públicas. Entretanto, esse anúncio feito no final da tarde deve repercutir na curva de juros no pregão de amanhã”, diz Leandro De Checchi, analista de investimentos da Clear Corretora.
O dólar, porém, caiu frente ao real, com baixa de 1,55%, a R$ 5,100 na compra e a R$ 5,101 na venda. Em grande parte, a performance é explicada pela performance da moeda americana no exterior, com o DXY, índice que mede sua força frente a outras divisas, caindo 0,93%.
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“Hoje foi dia de divulgação do CPI americano de dezembro, com dados vindo em linha com o esperado. O mercado, então, está com a expectativa de que o Federal Reserve não precisará trazer um aperto monetário tão forte, já que a inflação veio dentro do consenso. Isso derrubou o dólar mundialmente”, diz Felipe Steiman, gerente comercial da B&T Câmbio.
O índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) nos Estados Unidos caiu 0,1% em dezembro na comparação com novembro, quando o consenso previa estabilidade.
Em Nova York, com a menor preocupação com a inflação, Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq subiram, respectivamente, 0,64%, 0,34% e 0,64%. Os treasuries yields para dez anos caíram 11,2 pontos-base, a 3,444%, e os para dois anos, nove pontos, a 4,138%.