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O Ibovespa fechou em queda de 0,82% nesta terça-feira (7), aos 107.829 pontos, na contramão do que foi visto no exterior. O principal índice da Bolsa brasileira vem sofrendo, principalmente, pelo recente embate travado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com os atuais níveis da Selic e com a independência do Banco Central (BC).
Hoje, o petista, em café da manhã com jornalistas apoiadores do governo, voltou a atacar os atuais níveis do juros no Brasil, o que vem acontecendo desde a decisão do Comitê de Política Monetária na última quarta. Além disso, defendeu que Roberto Campos Neto, presidente do BC, tem de ir ao Congresso dar explicações ao povo brasileiro e teria pedido auxílio à imprensa simpática na construção de uma narrativa “antimercado”.
“O grande tema no cenário interno é o impasse entre governo e o Banco Central. Lula vem questionando os juros, bem como membros do PT. Isso causa um ruído grande”, explica Ubirajara Silva, gestor da Galapagos Capital. “No mercado interno, a predominância foi do discurso do Lula, com todas as linhas pregando maior interferência política no Banco Central. Chegamos a ter a notícia de que o PSOL irá entrar com um pedido para convocar o Campos Neto para uma audiência na Câmara”, complementa Luiz Adriano Martinez, gestor de renda variável e sócio da Kilima Asset. Além disso, o PSOL tem no radar um projeto contra a autonomia do BC.
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Nem mesmo a ata do Comitê de Política Monetária (Copom), que trouxe tom menos duro do que o sinalizado na decisão, acalmou os ânimos. O documento fala que se a política fiscal apresentada pelo Ministério da Fazenda trouxer resultados, diminuindo o déficit público, a taxa de juros brasileira pode vir a cair.
“A ata do Copom tirou um pouco o tom hawkish, dizendo que vai acompanhar a questão do fiscal para tomar as próximas decisões. A combinação fez com que a curva fechasse na ponta curta e abrisse na longa”, contextualiza Silva.
As taxas dos DIs para 2024 perderam 11,5 pontos-base, a 13,68%, e as dos DIs para 2025, 4,5 pontos, a 13,15%. Os DIs para 2027 e 2029 ganharam, respectivamente, 13 e 20 pontos, a 13,19% e 13,41%. Os contratos para 2031 foram a 13,49%, com mais 21 pontos.
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“Isso pesou no mercado interno e os setores que mais sofrem com isso são os mais sensíveis ao ciclo econômico, como consumo discricionário, construção civil”, acrescenta Martinez.
Entre as maiores baixas do Ibovespa, ficaram as ações da Locaweb (LWSA3), com menos 6,90%, as da Via (VIIA3), com menos 4,55%, e as da CVC (CVCB3), com menos 3,26%.
O setor de utilidades também sofre, após Lula, na mesma ocasião, atacar a privatização da Eletrobras (ELET3), aumentando o temor de maior interferência no âmbito regulatório. As ações ordinárias da Ecorodovias (ECOR3) perderam 4,11%, as da Eletrobras, 3,51%, e as da Sabesp (SBSP3), 3,46%.
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Em Nova York, Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq subiram, respectivamente, 0,78%, 1,29% e 1,90%.
Por lá, “destaque ficou para o discurso do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, com o mercado tentando digerir as falas em um ambiente que ainda é de muita incerteza”, afirma Rodrigo Ashikawa, economista da Principal Claritas.
De acordo com especialistas, em evento promovido pelo Clube Econômico de Washington, deu sinalizações mistas.
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“O Powell inicialmente pareceu mandar um recado mais leve, dizendo que eventualmente teria uma ou duas altas da taxas de juros e iria parar. No final da entrevista, porém, ele deu algumas declarações sobre o mercado de trabalho. Falou que se os empregos ficarem mais resilientes do que ele está imaginando, as altas podem ser maiores, que pode aumentar o teto”, defende o gestor da Kilima.
O dólar, por fim, perdeu força mundialmente, com o DXY, índice que mede a força da moeda frente a outras de países desenvolvidos, recuando 0,23%, a 103,38 pontos. Frente ao real, contudo, a divisa americana ganhou 0,50%, por conta do cenário doméstico, fechando a R$ 5,199 na compra e a R$ 5,200 na venda.