Publicidade
Após quase três semanas de retiradas, o investidor estrangeiro voltou a ser comprador líquido da Bolsa brasileira no acumulado de março – ao menos por enquanto. A sequência desse movimento positivo vai depender, sobretudo, de maiores detalhes sobre o novo arcabouço fiscal, previsto para sair ainda este mês.
Mesmo com todo esse pesar interno, porém, o Brasil segue no radar do estrangeiro, que já aportou mais de R$ 11 bilhões em 2023. Conforme relato do JPMorgan, obtido em reuniões em NY, em termos relativos, a Bolsa brasileira está mais atraente em relação a pares de mercados emergentes.
“A oportunidade existe porque os investidores já se deram bem na China e não querem ficar lá por mais tempo”, descreve o JPMorgan, em relação à percepção de investidores estrangeiros. “Se eu vender uma ação no Brasil, não sei onde comprar outra”, acrescentou.
Continua depois da publicidade
No entanto, os próximos passos serão essenciais para saber se o movimento de retorno é pontual, ou se haverá uma nova debandada de recursos da Bolsa. “O pacote fiscal será o referendo do Brasil”, relatou um investidor.
“Se o Brasil não mostrar alguma melhora na política, pode-se tornar muito difícil investir em ações (no Brasil)”, completou.
Leia também:
Continua depois da publicidade
- Os três eventos políticos que podem “destravar” o mercado brasileiro nos próximos meses
Ibovespa de meados de fevereiro até hoje
Volta ao positivo
Em fevereiro, na B3, o gringo retirou cerca de R$ 1,6 bilhão, no pior resultado desde o primeiro semestre de 2022. O impacto disso, como observado no gráfico acima, foi o de desvalorização da Bolsa, que caiu 7,5% mês passado, indo aos 104,9 mil pontos.
Nas últimas sessões, porém, o fluxo estrangeiro voltou a ficar positivo na B3, segundo dados da Bolsa. Assim, em março, até o último dia 6, o saldo virou para entradas líquidas de R$ 189 milhões. Enquanto isso, no acumulado de 2023, o gringo já aporta mais de R$ 11 bilhões.
A principal contrapartida é o investidor institucional que sacou mais de R$ 11,2 bilhões da Bolsa neste ano, sendo R$ 463 milhões apenas nos primeiros dias de março.
Continua depois da publicidade
Assim como os estrangeiros, destaque positivo para o investidor pessoa física, que já acumula ingressos líquidos de R$ 969 milhões na Bolsa em 2023 e de R$ 91,5 milhões em março, até dia 6.
Veja abaixo o desempenho do fluxo de recursos à B3
Preocupações fiscais
Segundo a estrategista de ações da XP, Jennie Li, a Bolsa foi sustentada em 2022 e no início de 2023 pela forte entrada capital estrangeiro.
Para ela, essa recente saída (em fevereiro) é atribuída às preocupações com a política econômica, que podem levar à uma maior deterioração das contas públicas.
Continua depois da publicidade
Em relação à sequência do fluxo gringo ao Brasil, ela é reticente.
“É difícil saber, se isso é pontual ou vai se manter”, disse. “Acho que precisamos ter uma melhora na perspectiva (fiscal) daqui para frente”, acrescentou.
Leia também:
“A questão fiscal é a que mais impacta, pois os investidores se sentem inseguros quanto a isso”, afirmou Mauriciano Cavalcante, diretor de câmbio da Ourominas.
Conforme ele, a desaceleração recente do fluxo gringo na B3 é resultado, sobretudo, de problemas internos, mas também do desconforto do mercado – e o consequente impacto nas curvas de juros (DIs) – com a pressão do governo sobre o BC, em relação à Selic.
Saldo acumulado de recursos estrangeiros
Falta de tendência da Bolsa
Na avaliação de Enrico Cozzolino, head de análise da Levante, ainda é precipitado falar de reversão de fluxo gringo para o Ibovespa.
“O Ibovespa começa a encontrar pontos de suporte, baratos por fundamentos, a mercê de ruídos políticos e do viés internacional bastante incerto ainda”, disse.
Para Cozzolino, os movimentos erráticos, seja de entrada maciça em janeiro ou de debandada em fevereiro, mostram que falta uma tendência definida para a Bolsa.
“Há uma névoa (sobre o mercado), em que ninguém consegue enxergar dois metros à frente. Quando se sai um pouquinho, anda dois metros, volta ao nevoeiro, e se reduz a marcha”, comparou.
Saldo de fluxo gringo na Bolsa
- Fevereiro/23: – R$ 1,7 bilhão;
- Janeiro/23: +R$ 12,6 bilhões;
- Dezembro/22: +R$ 13,8 bilhões;
- Novembro/22: +R$ 2,9 bilhões;
- Outubro/22: +R$ 14,1 bilhões;
- Setembro/22: -R$ 0,1 bilhão;
- Agosto/22: +R$ 16,4 bilhões;
- Julho/22: +R$ 1,9 bilhão;
- Junho/22: +R$ 0,4 bilhão;
- Maio/22: -R$ 6,2 bilhões;
- Abril/22: -R$ 7,7 bilhões.
Bolsa brasileira vence por W.O.
Já Bruno Komura, analista da Ouro Preto Investimentos, vai mais adiante. Ele ressalta que, desde as eleições, com a vitória de Lula, se vê um fluxo crescente, principalmente pela visão de que o Brasil está bem posicionado, dado o contexto global.
“Entre os pares emergentes, a gente acaba sendo o melhor, não porque o Brasil está bom, mas porque outros países estão piores”, disse.
Komura citou como exemplos os casos da Rússia, que está em guerra com Ucrânia, e da China, cada vez mais centralizadora e em constantes atritos com EUA. Ambos, disputam recursos com o Brasil.
Ademais, acrescentou ele, fora o México, que também se antecipou ao ciclo de aperto monetário (e tem situação semelhante ao Brasil, mas menos endividado), outros países como Chile, Colômbia e África do Sul, não têm demonstrado fundamentos suficientes para virar alternativa à B3.
XP
Invista até R$ 80 mil no novo CDB 150% do CDI da XP; condição inédita.
Abra a sua conta gratuita na XP para aproveitar
You must be logged in to post a comment.