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Você compraria ações de uma “escola de traders”? Uma delas está chegando na Bolsa

A mesa proprietária WHPH terá ações listadas na Bovespa; mas ao invés de IPO, empresa chegará no mercado por meio de uma OPA da totalidade dos papéis da Inepar Telecomunicações, em uma operação que pode lhe render benefícios fiscais milionários

Thiago Salomão

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SÃO PAULO – Quando pensamos em companhias que fazem parte da Bolsa de Valores, logo nos vêm à cabeça figurinhas famosas como Petrobras, Vale, Ambev, Itaú, Bradesco e por aí vai. Mas nos próximos meses deveremos ter entre elas uma empresa que vive no “coração” do mercado financeiro: uma “proprietary trading firm”, ou mesas proprietárias, que é a forma “tupiniquim” que elas estão sendo chamadas.

Antes de mais detalhes, vamos primeiro explicar o que são essas proprietary trading firms – ou “prop trading” ou simplesmente PPTs. Elas são empresas que buscam montar uma equipe de operadores para investir o próprio capital no mercado financeiro. O processo seletivo é o mais “darwinista” possível: os candidatos a trader operam dentro da PPT (respeitando os limites de gerenciamento de risco propostos por ela) e os melhores colocados vão ganhando cada vez mais limites para operar – da mesma forma, os que performarem mal vão sendo expirados da mesa.

A prop trading em questão é a WHPH Participações e Empreendimentos (a saber: WHPH = Work Hard, Play Hard – ou trabalhe duro, jogue duro, na tradução livre). Sua chegada na Bolsa, no entanto, não será alardeada como mais um IPO (Oferta Pública Inicial, na sigla em inglês), para a infelicidade da BM&FBovespa: ela virá através da compra de uma OPA (Oferta Pública de Aquisição) da Inepar Telecomunicações (INET3), empresa de capital aberto mas que encontra-se em recuperação judicial.

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Compra com benefício milionário
A compra foi fechada em 26 de maio, conforme fato relevante divulgado pelo Grupo Inepar após o fechamento do mercado. Por R$ 5 milhões, a WHPH irá adquirir a totalidade das 217.070.571 ações ordinárias que a Inepar SA (INEP4) detinha da Inepar Telecom, o que correspondia 69,24% do capital – cada ação saiu a R$ 0,023034, bem abaixo dos R$ 0,06 que os papéis INET3 fecharam aquele pregão. A prop trading e a Inepar já haviam celebrado um compromisso de compra e venda de ações em 26 de dezembro.

O modelo segue os moldes da Sweet Cosmetics, que no final de março concluiu a “metamorfose” da All Ore (AORE3). Assim, a empresa que nasceu como uma mineradora pré-operacional hoje trabalha no segmento de cosméticos, tendo modificado completamente todo seu estatuto social, missão, visão, valores, endereço e composição da diretoria – ou seja, transformou-se em uma nova empresa.

A compra da Inepar Telecomunicações traz uma enorme vantagem para a WHPH. Em conversa com o InfoMoney, a empresa explica que a Inepar Tel aproximadamente R$ 240 milhões de prejuízo fiscal. Tal quantia pode ser usada para isentar a companhia de pagar impostos em cima de futuros lucros. Ou seja, a WHPH pode “ganhar” com a isenção de impostos como a CSLL e o imposto de renda, que ela teria teria de pagar caso venha a trazer lucro no futuro.

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Vale mencionar que a Inepar Tel atualmente possui zero de ativos e zero de dívidas, informa a WHPH.

Em um mês, “faxina geral” e OPA
Apesar do “disfarce” da prop trading dentro da sigla de quatro letras, a descrição e os interesses da empresa estão claramente explicitados no final do fato relevante, onde a Inepar explica que a WHPH “é uma empresa de participações e empreendimentos e seus principais negócios incluem compra e venda de participações em empresas e investimentos em títulos da dívida publica e operações de day trade no mercado financeiro”. E complementa: “a operação irá demarcar, para a WHPH, os primeiros passos para formar uma companhia como as grandes empresas de investimentos proprietários americanas, as chamadas Proprietary Trading Firm” – isso porque o modelo de PPTs, embora muito novo no Brasil, já é extremamente disseminado em Wall Street.

Após a compra, a WHPH fará uma “faxina geral” na Inepar Telecom, de forma que a antiga companhia de telecomunicações tenha a cara de uma prop trading. “O objetivo da aquisição de parte da Inepar Telecom consiste em impulsionar outras oportunidades de negócios, com a respectiva reorganização societária envolvendo a alteração da denominação, endereço, objeto, e reformulação dos administradores”, diz a empresa no fato relevante.

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A empresa ainda submeterá à CVM (Comissão de Valores Mobiliários) um pedido de registro de OPA para comprar a totalidade das ações da Inepar Telecom detidas pelos acionistas minoritários. O preço por ação ordinária a ser pago será o mesmo pago à Inepar Telecom, atualizado com a variação Selic no período entre 25 de maio de 2015 (data em que se concluiu a compra) e a data de liquidação.

Se o mercado de ações já é tradicionalmente volátil, como deverá ser o comportamento de uma empresa cujo objetivo é ganhar com a volatilidade no mercado? Para analistas que pediram anonimato, ter ações dessa companhia seria comprar “risco no risco”; para outros, pode ser uma boa forma de se expor ao frenético e excitante mundo dos traders sem precisar ter quatro telas à sua frente e acompanhar o mercado o dia todo. Para quem gosta desse universo e confia na habilidade dos operadores desta mesa, essas ações podem ser uma boa pedida.

Thiago Salomão

Idealizador e apresentador do canal Stock Pickers