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SÃO PAULO – Uma constante no mercado nos últimos tempos tem sido a máxima que “ação que vale centavos e faz grupamento cai”, o que foi visto na Metal Iguaçu e na Lupatech, só para citar os casos mais recentes. No entanto, a recíproca também é verdadeira? Ações com tickets médios muito elevados que desdobram os seus papéis vão inexoravelmente subir? Se for o caso, o investidor pode ficar de olho em Lojas Renner (LREN3).
A companhia convocou ontem uma Assembleia Geral para deliberar sobre um desdobramento na razão de 1 para 5. O objetivo destas operações geralmente é aumentar a liquidez dos ativos quando o preço deles está muito alto na Bolsa, o que afasta os investidores menos abastados. No caso da Renner, por exemplo, com uma ação que já custa mais de R$ 100,00 a unidade, a pessoa que quiser comprar o lote mínimo de 100 ações terá que desembolsar nada menos do que R$ 10 mil. Com o desdobramento, elas passarão a R$ 20,00, o que torna o lote mínimo bem mais “em conta”: R$ 2 mil para ser dono de uma pequena participação da empresa.
Com maior liquidez, os ativos ganham facilidade de negociação, ou seja, de compra e de venda, aumentando a volatilidade de maneira a possibilitar maiores ganhos, mas também maiores perdas ao acionista. É algo que, guardadas as devidas proporções é similar ao que ocorre nos grupamentos de “penny stocks”, nos quais elas saem de patamares muito próximos ao valor mínimo de negociação e ganham volatilidade. Se olharmos para a performance das small caps de centavos que fizeram grupamento, elas despencaram na Bolsa no dia seguinte, o que faz com que o investidor que vê as operações de “agrupar” e “desdobrar” ações como “espelhos invertidos” fique com os olhos brilhando para a Renner.
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Uma coisa é uma coisa…
No entanto, analistas e gestores alertam para cuidado com tanto otimismo. Para André Vainer, gestor da Athena Capital, a situação da varejista de fast fashion será bem diferente do que ocorre com essas empresas. “No caso dela a operação de desdobramento não vai ser um game changer”, afirma.
Vainer considera que a operação é positiva, já que possibilita a entrada de mais investidores pessoa física no papel e também mostra preocupação da empresa com o preço e o potencial de seus ativos negociados na BM&FBovespa, mas não trará tanto efeito de curto ou médio prazo. “Acho que a questão de subir ou não subir vai se dar essencialmente em relação aos resultados”, explica.
É o que também diz o analista da Leme Investimentos, João Pedro Brugger. “Em termos de fundamentos não muda nada, mas o ticket médio fica mais barato e uma pessoa que não tinha dinheiro vai poder comprar”, diz, lembrando o caso da Ambev (ABEV3), que desdobrou suas ações em 11 de novembro de 2013, também na razão de 1 para 5, saindo de R$ 88 para R$ 17. No primeiro pregão pós-desdobramento, os papéis da cervejaria subiram 0,23%, bem longe do desempenho fora da curva das “penny stocks” agrupadas. Desde então, contudo, ela já sobe 17%.
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Caso bem diverso foi o da petroleira PetroRio, antiga HRT (HRTP3), que desdobrou ações em 2012 – quando seu papel custava mais de R$ 300 – subiu 3,33% no pregão da data “ex” e depois só caiu. Foram 88% de queda até ser obrigada a agrupar papéis em 4 de agosto de 2014, para sair de R$ 1,50 para R$ 14. Desde então, ela acumula uma desvalorização de 69%. Ou seja, diferentemente dos grupamentos das ações de centavos, os desdobramentos de papéis que custam mais de R$ 100 não garantem uma valorização ou desvalorização futura. Tudo depende do ativo em questão.
O ativo: Lojas Renner
Olhando pelo menos para os últimos resultados, a Renner parece estar bem nas suas operações, independente de qualquer provento. No primeiro trimestre de 2015, a companhia viu seu lucro líquido crescer 43,8% na comparação anual, o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) – visto como uma medida do potencial de geração de caixa de uma empresa – aumentar 47,2% e a receita líquida subir 24,1%. Com números tão positivos, as ações dispararam 17,68% desde a divulgação do balanço no dia 29 de abril.
Com isso, a Lojas Renner é dona de nada menos do que o terceiro melhor desempenho na Bolsa este ano. São 46% de alta desde o início de 2015 contra apenas 7% do Ibovespa, o benchmark do mercado brasileiro, que teoricamente mostra a média do desempenho das ações listadas em Bolsa.
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Segundo Vainer, todo este desempenho não é uma questão pontual. Na sua opinião, a Renner colhe agora os frutos que plantou anos atrás quando começou a se remedolar para sair do mercado de venda de roupas “commoditizadas” para entrar no mercado de fast fashion. “Isso faz com que ela tenha uma assertividade maior e suba o preço dos seus produtos”, explica.
O que faz com que muitos torçam o nariz para a ação no momento é não só ela já ter subido muito como o seu setor. O varejo é muito afetado pelo ambiente econômico, já que ele depende do aquecimento do consumo. O momento brasileiro atual de estagnação, inflação alta e juros acima de 13%, portanto, é o pior ambiente possível para o setor. O gestor da Athena explica, apesar disso, que no caso da Renner isso tem até sido bom, já que a empresa fez o seu dever de casa para se proteger dos efeitos adversos da economia e o impacto acabou prejudicando seus concorrentes, deixando ela com uma maior fatia de mercado.
No entanto, isso é no curto prazo. Vainer lembra que se a economia brasileira continuar patinando durante longos períodos, eventualmente mesmo as empresas com boa gestão irão desacelerar. Ou seja, a oportunidade é boa, mas é preciso olhar para a evolução dos fundamentos e a situação da economia antes de sair disparando ordens no home broker.
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Para uma operação mais óbvia, contudo, o investidor pode olhar para TecToy (TOYB3;TOYB4), que fará grupamento de 1 milhão para um com um lote de 100.000 ações, saindo de menos de um centavo para R$ 10,00 no dia 18 de agosto. Mas isso não significa fechar os olhos e entrar vendido no papel no dia, primeiro, porque nenhum movimento é garantido e segundo pela dificuldade em encontrar papéis para o aluguel no BTC dado a falta de liquidez da ação.