Depois da Ambev, mais um “titã da Bolsa” sofre com medidas do governo

Cielo despencou na última sessão após aprovação de proposta que permite fazer cobrança diferenciada entre as compras pagas com dinheiro e as compras feitas com o cartão de crédito

Rodrigo Tolotti

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SÃO PAULO – Umas das maiores empresas da Bolsa, tida como um investimento seguro, com ações subindo bem no ano, começa a ver seus papéis caírem após o anúncio de uma nova medida do governo. Parece Déjà vu, mas na verdade é a história se repetindo novamente. Depois da Ambev (ABEV3), que sofre com a “mão” do governo é a Cielo (CIEL3) que ontem viu suas ações caírem 2,35%, cotadas a R$ 41,00.

Na tarde de quarta-feira (6) o plenário do Senado aprovou uma proposta que permite ao comerciante fazer cobrança diferenciada entre as compras pagas com dinheiro e as compras feitas com o cartão de crédito. O projeto, de autoria do senador Roberto Requião (PMDB-PR), susta os efeitos da Resolução nº 34/89 do extinto Conselho Nacional de Defesa do Consumidor, que proíbe a diferenciação dos valores. A matéria seguirá agora para análise da Câmara dos Deputados.

Atualmente, não se pode ter uma cobrança diferenciada nos preços do pagamento feito em dinheiro de quando é feito com cartão de crédito. Hoje, o comerciante paga taxas e juros “extras” para os produtos pagos no crédito, mas como é proibido ter valores diferentes para um mesmo produto, quem paga em dinheiro acaba arcando também com essas taxas, já que os produtos possuem um valor maior para compensar essas tarifas.

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Com a nova medida, o vendedor poderá cobrar valores diferentes para quem paga no cartão de crédito e no dinheiro, ou seja, acabará estimulando o consumo em dinheiro. “Não estamos abolindo o cartão de crédito. Estamos dando a opção para que o comprador negocie com o vendedor. Estamos liberando o sistema e não engessando. Não vamos impor aos favelados uma despesa que eles não podem pagar”, disse Requião. “A pessoa tem que ter o direito de optar se quer pagar taxas e juros do cartão de crédito que são embutidos no valor da mercadoria”, complementou Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM).

Autor da proposta, Roberto Requião disse que não consegue entender como os senadores têm defendido o contrário. Segundo ele, a medida pode ajudar até no combate à inflação. Contrária à votação imediata, a senadora Ana Amélia (PP-RS) defendeu que a matéria passasse pelas duas comissões para ampliar o debate.

A senadora disse ter “dúvidas” sobre a validade da proposta, uma vez que uma série de entidades de defesa do consumidor que ela considera como “insuspeitas”, como o Idec, se posicionaram contrariamente à matéria. “Se elas (as entidades) assumem que mudar pode prejudicar o consumidor, eu não posso deixar de discutir a matéria”, disse.

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A história se repete
No início do ano, o mesmo cenário se repetiu com a Ambev, que viu o governo anunciar o aumento de impostos para bebidas frias, o que leva a um aumento da carga tributária para as companhias deste setor. A diferença é que, após ser anunciado ainda em fevereiro, o aumento não ocorreu, já que com as reclamações das companhias o governo aceitou postergar esse reajuste, e realizar os aumentos de forma gradual.

Segundo a analista-chefe da Coinvalores, Sandra Peres, o aumento dos impostos para bebidas frias está trazendo muito pessimismo para os investidores em relação à Ambev. “Mesmo que tenha sido postergado, o mercado ainda não se sente confiante com o cenário para a companhia”, explica ela.

No caso da Ambev, ainda ajuda o fato de que as conversas entre as empresas do setor e o governo estão levando a mudanças nas medidas. O governo já aceitou ouvir contra-propostas por parte das companhias, o que mostra a intenção de encontrar a melhor solução, diz a analista. Rumores indicam que poderia ocorrer uma mudança na tributação, que atualmente ocorre na venda dos produtos. Com uma nova metodologia, a tributação poderia ocorrer na fábrica, o que facilita o gerenciamento do imposto por parte das empresas.

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Nem o fato de diversos analistas apostarem na Ambev como uma das empresas que seriam mais beneficiadas pela Copa do Mundo ajudou as ações a subirem. Sandra Peres destacou que o cenário de aumento de impostos pesa muito e cria uma barreira para os papéis registrarem ganhos. Até o último pregão, as ações ABEV3 tinham queda acumulada de 7% no ano.

Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.